segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Independência e Cidadania em Angola

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(…) Em 42 anos de independência, Angola mostra-se como um país capaz de ultrapassar as diferenças sociais, políticas e ideológicas, porém, tal feito será alcançado se as rádios comunitárias souberem na vertical serem verdadeiros meios de unidade e inclusão social. 

Estes meios comunitários em Luanda trouxeram, um novo clima nas relações entre a atmosfera urbana e periférica no seio de seus habitantes, o clima da democratização das ideias e do exercício da cidadania “incipiente”. 
Ela efetivou-se na perspetiva de uma comunicação pública. Como afirma C.Peruzzo (2004, p. 6) “a comunicação e sobretudo a comunitária pode estimular a construção da cidadania, ao informar os cidadãos sobre os seus direitos e as formas de os exercerem”. 

Estamos a caminho da metade de um século, mais do que melhorar o que está bom, urge em conjunção de ideias prepararmos as mentes para o sossegar dos espíritos, quando, desenterrarmos as histórias proibidas, que tornaram vítimas os pilares de nossa História. – As rádios serão cobradas, um papel indelével.
Uma nota para a independência, BussuloDolivro

sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Novas conquistas

(…) Lute para seres o espelho, que desejas para si e a sua família. Escute, partilhe e perdoe sempre, mas, não se acomode com as pequenas borboletas que polarizam seu jardim; pois se não souberes tratar, ela secará, e o sucesso estará a milhas de um binóculo. É este “sucesso”, que segundo Deepak Chopra na sua obra, as Setes leis espirituais do sucesso definir-se-ia como sendo a constante expansão da felicidade e a progressiva realização de objectivos meritórios. Assim, para ele o sucesso consiste na capacidade de realizarmos os nossos desejos com um mínimo de esforço. 

Portanto, a produção científica exige mais do que o mínimo de esforço, a vontade de concluir a pesquisa, e consequentemente a honra de expor as verdades prováveis num universo de críticos exigentes.




quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

A produção científica em Angola

|…| A produção científica é a consagração sui-generis da prática académica. A mesma é resultado de um conjunto de aplicações metodológicas, que obrigam do pesquisador galgar atalhos, difíceis, e em alguns casos pavorosos a fim de expor num universo de críticos uma ideia a comprovar ou uma tese a defender. O processo da acreditação desta ideia é um percurso, enquanto, a tese é a chegada. 
Portanto, para muitos a produção científica termina com a exposição de insights comprováveis, e para mim é somente a largada de várias maratonas.
Aos Professores Doutores: Dinis Kebanguilako (um professor socializador),Ana Luzia Jacinto (Mulher de Mérito), Américo Chivukuvuku (amigo e crítico do saber social), Dominique Chipango (um exímio pedagogo) o meu muito obrigado!
Para os luxuosos da plateia da última hora, Fábioh RaimundoMiklenya DelleReciado DA Jacinta - Valeu!



sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Cabo Verde é o lusófono africano melhor colocado no ranking da Sociedade da Informação

A nona edição do relatório anual Medindo a Sociedade da Informação foi lançada pela União Internacional das Telecomunicações (UIT), a agência das Nações Unidas especializada na área das tecnologias da informação e comunicação. Portugal é o país lusófono melhor colocado no ranking liderado pela Islândia. Brasil está na posição 66 e Cabo Verde, o lusófono africano melhor colocado, em 93º. 

Adicionar legenda


A edição 2017, lançada quarta-feira (15), conclui que avanços na internet, análise de big data, computação em nuvem e inteligência artificial vão permitir “enormes inovações” e transformar “de forma fundamental” negócios, governos e sociedades, servindo para melhorar os meios de subsistência em todo o mundo.
Segundo o relatório, essa “revolução vai se desenrolar nas próximas décadas com oportunidades, desafios e implicações ainda não plenamente conhecidos”.
Para colher esses benefícios, o documento defende que os países terão que “adotar políticas que sejam propícias à experimentação e inovação ao mesmo tempo que mitiguem possíveis riscos à segurança, privacidade e emprego”.
Índice global e lusófonos
A Islândia lidera o Índice de Desenvolvimento de Tecnologia da Informação e Comunicação, IDI, da UIT em 2017. O país ocupava a segunda posição no ano passado.
Coreia do Sul, Suíça, Dinamarca e Reino Unido completam as primeiras colocações da lista este ano.
O país lusófono melhor colocado no IDI 2017 é Portugal, na 44ª posição, a mesma do ano passado, seguido do Brasil em 66º e Cabo Verde em 93º.
Em 122º lugar está Timor-Leste. São Tomé e Príncipe aparece em 132º, Moçambique em 150º, Angola em 160º e a Guiné-Bissau na 173ª posição.
A região de Macau, na China, aparece em 26º no índice.
Regiões
Há “diferenças consideráveis” entre as regiões do mundo no que diz respeito aos índices de desenvolvimento na área de tecnologia da informação e comunicação.
Segundo o documento da UIT há também grandes diferenças entre os países de cada região e estas são associadas principalmente com os níveis de desenvolvimento econômico.
Américas
Os Estados Unidos e o Canadá lideram o Índice de Desenvolvimento de tecnologia da informação e comunicação, IDI, 2017 da UIT na região das Américas.
Segundo o relatório, o Brasil é um dos maiores mercados de telecomunicações da região. A expectativa é que a qualidade e a cobertura dos serviços melhorem “significativamente” nos próximos anos.
África e Europa
Entre as regiões do mundo, a Europa tem a média mais alta no IDI 2017. As maiores melhorias no índice foram registradas em Chipre e na Turquia.
Segundo o documento, o mercado de telecomunicação em Portugal tem visto um “desenvolvimento positivo”.
Na 72ª posição, as Ilhas Maurícias são o país africano melhor colocado no índice.  O continente também abriga dois dos países com as “melhoras mais dinâmicas” nos valores de seus IDI durante o ano: Namíbia e Gabão.
O chefe da UIT, Houlin Zhao, afirmou que as tecnologias de informação e comunicação, Tics, têm o “potencial de fazer do mundo um lugar melhor e contribuir imensamente para o desenvolvimento sustentável”.

No entanto, ele afirmou que apesar do progresso alcançado em geral, a “divisão digital permanece um desafio que precisa ser abordado”.

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Fenómeno Mata-aula

Fenómeno mata-aula

É uma ideia caracterizada como fenómeno sociológico, em que os estudantes das escolas secundárias em Luanda abandonam por livre vontade as salas de aulas para se juntarem com os demais em recintos fechados, onde bebam, fumam e experimentam outras mais variadas experiencias negativas, como a prostituição e o consumo de bebida alcoólica. (Jornal O País, 2015, p.13)
Este fenómeno da perca de valores na sala de aula, da indisponibilidade dos professores e encarregados de educação em dar apoio pedagógico no processo de ensino e aprendizagem dos alunos. O fenómeno provoca a reunião de centenas de estudantes a partir das Redes Sociais Virtuais, como o facebook e o Wathapp onde planificam as rotas de chegada ao local, o que consumir e como pagar em todas as sextas-feiras.
Para Weber na sua obra conceitos sociológicos, estes grupos possuem uma “Relação Aberta” em que a liberdade de fazer algo é um factor inclusivo e de atracção de mais estudantes. Segundo ele este tipo de associação cuja regra fundamental consista na sua abertura a reciprocidade é uma ideia que norteia o mesmo grupo, pois os membros são guiados pelo objecto da unidade, que é a diversão, sem que se importem com as consequências negativas, para este caso. (p.72)

quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Breve análise da obra - As Aventuras ee Ngunga

A poligamia, a pedofilia e a pobreza rural no centro e sul do país, Angola, durante a guerra contra o colonialismo português, são realidades visíveis nas obras de Pepetela. E As Aventuras de Ngunga não fugiu a utopia literária daquele aclamado escritor. É a obra, que me obriga a preludiar esta nota de leitura sobre sobre as três realidades socioculturais, que enfermam a África milenar. Ademais, está o casamento infantil, que na visão de Anthony Kamba, na sua intervenção em Africa in Fact Journal sublinha, a sua difusão massiva em certas partes do mundo, especialmente na África. Segundo a Unicef -   Os cinco países com as maiores taxas observadas de casamentos de crianças no mundo, com idade inferior a 18 anos, são Niger, Chade, Mali, Bangladesh e Guiné.
Embora Angola não figura nesta lista, tenho a plena certeza, que o processo no interior do país permanece vivo.

Além das Aventuras de Ngunga, que de aventuras nada tem, pois viveu num nível de reactor de sobrevivência, quando as circunstancias não exigiam o contrário, contra o opressor colonial; e impor a ideologia empelista era a ética fervorosa a meio de uma ansia independentista – parabéns Pepetela  

Mas qual é a causa do casamento infantil?
Segundo o pesquisador Goitein, na sua obra A Mediterranean Society: The Jewish Communities of the Arab World  explica, que uma das causas é o “dote” – o dote designa os bens ou propriedades dos pais distribuídos a uma filha em seu casamento, em vez de depois da morte dos pais. Esta tem sido uma prática antiga, mas muitas vezes um desafio económico para a família da noiva. A dificuldade em economizar e preservar a riqueza para o dote era comum, especialmente em tempos de dificuldades econômicas, perseguições, ou a apreensão imprevisível da propriedade e economias por taxas discriminatórias, tais como a Jizya (imposto per capita ). Estas dificuldades pressionavam as famílias a desposarem suas filhas, independentemente da sua idade, assim que tivessem recursos para pagar o dote. Assim, Goitein nota que os judeus europeus casam suas filhas mais cedo, uma vez que já tivessem coletado a quantidade esperada para o dote


terça-feira, 10 de outubro de 2017

O 5º capítulo do meu futuro romance - texto não corrigido

Júlia estacionou bem ao lado da praça do artesanato, visualizou Maya a distância e sentiu que o compasso de seus passos prenunciava um reencontro radical com a vida. Júlia de Colete preto e camisas brancas, calsas pretas ampliavam os passos para sentir o batimento cardíaco de Maya.

Quando Júlia fez-se a areia do marvigiado por BDwarth online através de sua motorizada, que chegara ao local cinco minutos antes, começou a rever os passos de Maya e cada movimento da adolescente deixava cair uma letra; a primeira foi E e a segunda N, numa sequência encontra-me no barco do fundo. Lá conversaram de costas viradas uma da outra. 

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Fissuras


FISSURAS 

São fossas sem retorno
A ingratidão de um rei fora do trono,
Perdido no ardil do forno
Por infâmia indelével do suborno!

São fossas sem retorno!
O beijo desperdiçado no outono, 
Estatelado no haste sedutor das 
Pétalas do inverno!

Num silêncio nocturno
Festejam as libélulas taciturnas!
Os portunistas do tempo
Vendedores de urnas!
Em tempo de falsos templos

Apaga-se o olhar ríspido de arrogância, 
De quem se serve da ignorância
Dos indefesos cupidos à fome

São fossas sem retorno, 
Um destino incerto 
Para o cúmulo da exclusão 
De quem se serve no retorno da ilusão!

Abrem-se as clausuras da história,
Lascam-se nas crónicas feridas 
Com verdades ácidas, e impiedosas
armaduras 
nesta Angola, que se escreve e se conta!

Bussulo Dolivro, Poesia inédita.

Prémio Nobel da Literatura 2017 ? quem será

Autores como Margaret Atwood, Haruki Murakami, Ngugi wa Thiong`o e António Lobo Antunes são alguns dos autores mais citados para o Prémio Nobel da Literatura, a atribuir na quinta-feira pela Real Academia Sueca, segundo casas de apostas internacionais.

De acordo com a imprensa internacional, 2017 não será um ano propício a apostas audazes, ao se assinalar um ano desde a atribuição do galardão ao cantor e compositor Bob Dylan, levando a crer que o prémio fique reservado a um escritor "tradicional" e já incluído em listas anteriores, baseadas no serviço de apostas Ladbrokes.
O jornal britânico The Guardian, assim como a revista norte-americana The New Republic concordam que a escritora canadiana Margaret Atwood venha a ser distinguida pela Academia Sueca, depois da adaptação televisiva da obra "A História de Uma Serva" (1985) ter conquistado oito Emmys, na cerimónia de 17 de setembro, entre os quais o de melhor série dramática, melhor argumento (Bruce Miller), melhor realização (Reed Morano) e melhores atrizes principal e secundária - Elisabeth Moss e Ann Dowd -, respetivamente.
Igualmente alvo de destaque são o japonês Haruki Murakami, responsável por títulos como "Kafka à Beira-mar" (2002) ou "1Q84" (2010) - um favorito recorrente -, juntamente com o queniano Ngugi wa Thiong`o, colocado no topo da lista de apostas do `site` Ladbrokes no ano passado e que conta com tradução em Portugal desde 1970, aquando da publicação das narrativas "Não Chores, Menino" (1964), "Um Grão de Trigo" (1967) ou "Pétalas de Sangue" (1979) pelas editoras Caminho e Edições 70. O segundo lugar de 2016 pertenceu ao norte-americano Philip Roth, outro dos candidatos dados como crónicos a vencer um dos galardões mais prestigiantes no âmbito da literatura.
António Lobo Antunes é o único português que volta a constar da presente lista de apostas, sendo que, há um ano, ocupava a 15.ª posição, de entre 88 escritores. Caso a vitória deste se concretize, Lobo Antunes irá juntar-se a José Saramago, com o comité de 1998 a elegê-lo devido "às suas parábolas seguras pela imaginação, compaixão e ironia que continuamente nos permitem apreender uma realidade ilusória".
O moçambicano Mia Couto chegou também a ser considerado para receber o galardão sueco, depois de ter sido eleito pelo júri da Bienal Internacional de Literatura Neustadt para receber um prémio apelidado de "Nobel Americano", em 2013.
Adicionalmente, indicados na lista de selecionados mais prováveis da publicação The New Republic encontram-se os espanhóis Javier Marias e Enrique Vila-Matas, o autor Rohinton Mistry, natural da Índia, o italiano Claudio Magris e os israelitas Amos Oz e David Grossman - este último já galardoado com o The Man Booker Prize de 2017 pelo seu trabalho "A Horse Walks Into a Bar" (2014), traduzido em inglês, no ano de 2016.
A personalidade vencedora do Prémio Nobel da Literatura de 2017 será conhecida nesta quinta-feira, numa transmissão em direto na plataforma `online` da Real Academia Sueca, marcada para as 12:00 (hora de Lisboa).

terça-feira, 19 de setembro de 2017

desejos, realidade e outros sonhos










Uma nova filosofia de vida






frases soltas






O meu outro lado




Meus pensamentos




A Vergonha do Dólar

CRÓNICAS DE BUSSULO DOLIVRO


Era um hábito, todos os finais do ano, o Soba Mbaka regedor da Aldeia Mbaka reunir-se com os seus aldeões, nas ribeirinhas do rio Ulonga. O propósito não passava das simples orientações agrícolas às novidades políticas e culturais, que eram notícias nos jornais da capital, Luanda.

E sempre que, o mês de Novembro chegasse, crianças, jovens e velhos cogitavam sobre a quantidade da colheita, de olhos fechados. O milho, o feijão e a mandioca assim como a bata-doce, preenchiam uma longa fila, em que as hortaliças tinham maior aderência nas panelas do litoral, Luanda e Benguela.


E isto sucedia quando o fumo se perdesse na atmosfera, o povo acorria descalço, partilhando ideias sobre a caça, pesca e possíveis viagens à cidade maravilhosa, Luanda até a beira do rio.

O caudal do famoso rio Ulonga beijava a aldeia numa curva majestosa de 90 graus, oferecendo a graciosidade da pesca artesanal, lavagem de roupa e consumo doméstico para todos os aldeões. Em poucos minutos estavam todos concentrados debaixo do único embondeiro, deixado pelo acaso natural dos fenómenos.

 – Kalungi? Saudava o regedor da aldeia, num gesto subtil, com as palmas, chamando atenção dos demais.
– Kuku, responderam os aldeões num coro saudoso, que precipitou as aves hibernadas nos ninhos do verão!

Normalmente o regedor da aldeia, principiava com uma canção, que se tornava tradicional, mas naquele dia, e naquela hora, decidiu chorar, abrindo uma maré-baixa de cacimbo no verão.

– A suku yange! Nhe twalinga?

O povo perplexo, sentiu o prenúncio de uma maldade no seio do poder tradicional, que se convertesse em doenças, seca ou mesmo o desaparecimento de toda aldeia. Tal facto sucedera pela primeira vez no ano 40 na época do milho vermelho, com os ancestrais do Regedor da aldeia.

O Soba com rosto pálido, cabisbaixo começou por informar, que desaparecera misteriosamente o dinheiro, que comprava a água, limpava as ruas da cidade de Luanda, e alegrava os deputados assim como os cachorros raivosos em Dezembro pelo que era necessário, que todos se concentrassem no campo, por estarem nas vésperas de uma catástrofe desconhecida.

– Até os pássaros vão morrer? Perguntou uma criança, que tinha a barriga maior, que o normal.
– O rio vai secar, meu filho, respondeu um ancião, encobrindo a vergonha ética dos pais. – Quando os mais velhos estão a falar, você fecha os pés, replicou o ancião oitocentista.

O Regedor acrescentou, – Não haverá chuva durante muito tempo, quem conseguiu colher muito, poupe e dê um pouco aos que, não têm. Equanto o Regedor terminava o povo inverteu o corpo da reunião, uns sentaram outros levantaram-se. Os proverbistas tossiam de desânimo, fazendo crer, que uma diarreia de fome se aproxima, na incontornável procura pelo dinheiro, que fazia dançar a cidade maravilha.

- Vamos deixar de receber sementes, enxadas e outros meios de trabalho, os dias difíceis estão por vir. Terminava o discurso do mais velho, depois de exemplificar repetidas vezes as sete formas de morrer feliz.

O povo manifestou-se pasmo, e um oceano de murmúrio ondulou às árvores, que já começavam a secar, como os dólares nos bancos privados da cidade maravilha.

O anúncio infortúnio surgiu numa altura em que o povo se preparava para o ritual sagrado do Ulambo, em que as crianças, que chegassem à puberdade eram circuncisadas, e as meninas um corte no clítoris era obrigatório. O ritual amenizava a desgraça na aldeia atraindo turistas para o início da permuta, processo colonial, precipitado por D.Cão de Portugal.

Duas horas depois o povo sentiu-se ofuscado, quando o Regedor decidiu retornar ao ritual do prolongamento das gerações – Litokeka ao invés do Ulambo. Este consistia no acasalamento obrigatório das meninas em idade fértil para que, deixassem descendentes, antevendo deste modo o fim da aldeia a ser imersa nas águas do rio Ulonga como no ano 40.


Esta atitude do Regedor abriu fuga de uma centena de meninas, que decidiram procurar outra forma de vida na cidade maravilha, Luanda, vendendo Cuecas e lábios secos de vergonha.  

O Romance de Agualusa - A Conjura na descrição de Bussulo Dolivro



Minhas Anotações
Seria utópico se dissesse, que a fadiga de um povo traumatizado pelo passado é prova de que Deus não a corda, e tais palavras, a prior, falsas ocupariam as colunas dos jornais cristãos. O primeiro julgamento viria de meus irmãos, que sempre me inspiraram, pois como o autor subscreve em textos acima, sustento, que nenhuma dor é interminável, nenhum império é imbatível, e nenhuma criança permanece infantil até que entre as pernas se sacodem a ira do calor!



– Mas ó menino! Põe tento naquilo que dizes...
Carlos da Silva encolheu os ombros, continuou:
– Como entendeis vós a independência? Como eu talvez, isto é, a desunião de Portugal, da nossa mãe pátria. Para quê, para nos acolhermos em seguida a qualquer bandeira estrangeira? Não ficaremos pois
independentes. A cerimônia que se fizer não será mais do que a mudança de papéis porque continuaremos a estar dependentes, se não de Portugal, da nação a cuja bandeira nos formos acolher. E não será melhor que continuemos a ser portugueses, e com bastante orgulho porque os nossos avós o foram, os nossos pais o são?
Severino interrompeu-o:
– Orgulho? Pois você tem orgulho em ter por tutor um país como Portugal? Que nada nos trouxe de bom, que nada fez para o desenvolvimento de Angola! Que apenas nos assegura a miséria, o embrutecimento, a fome, a morte enfim? É o orgulho do boi pela canga que o traz cativo!

***
– Ainda que venha a república, Portugal não tem capacidade para desenvolver Angola. Melhor seria que nos vendessem à França, à Alemanha ou à Inglaterra, como de resto o pretendem alguns senhores deputados.

Do segundo capítulo Pág. 68-69

***
Os ecos desta pacífica revolta, desta clamorosa passeata pela baixa pombalina, chegaram a Luanda atrasados de alguns dias. Chegaram contudo mais vivos de cor, crescentados de tiros e de sangue e de piedosos detalhes destinados a despertar o espírito da nação.




Quando o velho colonialista Silva Porto se embrulhou na bandeirinha azul do reino e, empoleirado num barril de pólvora, se fez explodir, a ele e à sua libata e a todo o armamento e munições, sabia com certeza que estava
a lançar petróleo à alta fogueira dos ódios nacionalistas e, assim, indiretamente, a perpetrar um massacre.

– A Sanga transformou-se na pátria de todos os perseguidos, de todos os ofendidos, de todos os humilhados. Viviam nela gentes de diferentes tribos, serviçais e homens da cidade. E o que tinham de comum entre eles era o mesmo combate contra o muene puto, a mesma funda ânsia de liberdade. E é isso que nós queremos também...

Do Terceiro capítulo, pág, 82-83 e 105

****
Por esta altura deflagravam em Luanda uma série de greves e sobressaltados acontecimentos, tendo como origem um artigo inserto no número quatro d’A Gazeta de Loanda, único periódico que, ao tempo, se publicava na capital da colônia.
O dito artigo multiplicava-se em insultos soezes contra a raça negra, não sendo daí, porém, que vinha a maior novidade; de novo havia que, tomando por base tais dantas-baratismos, o audaz croniqueiro se atrevia a construir teorias e a avançar com propostas que até então ninguém havia ousado publicamente apadrinhar. Por exemplo, propunha que se substituíssem as penas de prisão por castigos corporais, pois “meter em ferros d’El Rei um preto que delinquiu assassinando, roubando, ferindo, ofendendo a moral por ações ou palavras, não é aplicar um castigo, é antes incitá-lo ao crime, é lisonjear-lhe o instinto, é dar-lhe o prêmio. Pois qual é o ideal do preto senão comer sem trabalhar? Qual é a sua lei, a sua norma de vida, o seu superior anseio? Não somos apologistas dos castigos corporais. Achamo-los uma barbaridade, pelo mesmo motivo que achamos a pena de morte um crime oficial. Mas umas palmatoadas não matam ninguém”.

Do quinto capítulo, pág159

Minhas Anotações

Seria utópico se dissesse, que a fadiga de um povo traumatizado pelo passado é prova de que Deus não a corda, e tais palavras, a prior, falsas ocupariam as colunas dos jornais cristãos. O primeiro julgamento viria de meus irmãos, que sempre me inspiraram, pois como o autor subscreve em textos acima, sustento, que nenhuma dor é interminável, nenhum império é imbatível, e nenhuma criança permanece infantil até que entre as pernas se sacodem a ira do calor! 

quinta-feira, 14 de setembro de 2017

Kinaxixi - Arnaldo Santos na leitura de Bussulo Dolivro

O passado conhecido, nunca morre. Kinaxixi. É uma teia de fotografias vivas, articuladas num cenário narrativo em que se confunde a prosa da poesia. É nela onde ressurgem factos da herança colonial; como a arquitectura da baixa de luanda, o preconceito entre as forças do preto e o brilho do mulato; as ideias da unicidade familiar mais educada em relação aos pardos da terra, da violência fria urbana por falta de emprego e segurança social – porque ele/ela é preta (o).
Todo este álbum descrito a preto e branco na Luanda colonial, ocorria numa calma aparente, e hoje aparentemente persistem, nós revivemos com pequenas silhuetas da coisificação, do que nada nos pertence, e da mania ostentosa daquilo, que nunca foi nosso.
Na obra Kinaxixi a felicidade urbana pertence às crianças, perante uma juventude adulto, que se transforma em verdadeiros Griotes.

BDolivro


terça-feira, 5 de setembro de 2017

10 CONSIDERAÇÕES SOBRE A SOCIEDADE DOS SONHADORES INVOLUNTÁRIOS

O Blog Listas Literárias leu A Sociedade dos Sonhadores Involuntários, de José Eduardo Agualusa publicado por Tusquets Editores; neste post as 10 considerações de Douglas Eralldo sobre o livro, confira: 

1 - Lírico e onírico, A Sociedade dos Sonhadores Involuntários é uma narrativa a ser lida tanto em seu contexto político quanto literário em que os limiares dos gêneros são provocados e quando os sonhos do autor e de suas personagens interligam-se de forma a constituir-se num manifesto político bastante veemente;

2 - Voz contra a ditadura angolana, Agualusa, neste romance irá explicitar seus desejos e sua luta através desta narrativa empenhada que se utiliza dos sonhos e das nuances do gênero fantástico para estruturar seu romance de forte caráter político que tem menos de sátira e mais de manifesto de tal modo que em determinados momentos a militância explícita sobrepõe-se à narração;

3 - No romance, distintos personagens interligados pelos mistérios do sonhar, ao mesmo tempo que trazem ao leitor suas experiências oníricas, paulatinamente vão desnudando o regime de opressão e violência promovido pelo regime autoritário e ditatorial de Angola, cuja ditadura persiste desde 1979. No caso do livro, são os sonhos que aproximam-no do fantástico, contudo, a presença de um neurocientista e das próprias inexatidões confessas tornam tudo mais difuso, de modo que as subjetividades e metáforas ganham valor com tais escolhas;

4 - Essa aproximação ou mesmo imersão ao fantástico e à metáfora, aliás, tem sido uma forma eficiente e recorrente com a qual a literatura tem usado para refletir sobre o totalitarismo e o autoritarismo, como foi o caso de grandes autores brasileiros como Érico Veríssimo e José J. Veiga quando da ditadura militar no Brasil e outros grandes nomes da literatura latino-americana. Através da "suspensão" do real ou a ressignificação desta realidade, como no caso desta obra, podemos então observar as contradições, a violência e o trauma de uma determinada sociedade de modo, que a meu ver, a literatura com tanta eficiência quanto, mas muito mais humana e decente,  torna-se uma forma de luta em nome dos oprimidos e massacrados pelos déspotas, ditadores, tiranos, etc;


5 - Todavia, para um olhar crítico de maior profundidade, diversas complexidades e contradições surgirão a partir de olhares construídos para este romance, como a própria reflexão da intensidade do engajamento de Agualusa e a discussão dos limites em panfletarismo e resistência, pois imerso no drama, o caráter ideológico de tal modo explícito provoca estas discussões. Na verdade, entre a sátira e o fantástico, diferentemente, por exemplo, das obras nacionais que falamos, as quais suas problemáticas eram colocadas por meio de uma grande subjetividade - devido também as restrições da censura -, em A Sociedade dos Sonhadores Involuntários os desejos/sonhos do autor são atirados de forma tão explícita que mais parecem um grito do que a chamada ao pensar; 

1 - Lírico e onírico, A Sociedade dos Sonhadores Involuntários é uma narrativa a ser lida tanto em seu contexto político quanto literário em que os limiares dos gêneros são provocados e quando os sonhos do autor e de suas personagens interligam-se de forma a constituir-se num manifesto político bastante veemente;

2 - Voz contra a ditadura angolana, Agualusa, neste romance irá explicitar seus desejos e sua luta através desta narrativa empenhada que se utiliza dos sonhos e das nuances do gênero fantástico para estruturar seu romance de forte caráter político que tem menos de sátira e mais de manifesto de tal modo que em determinados momentos a militância explícita sobrepõe-se à narração;

3 - No romance, distintos personagens interligados pelos mistérios do sonhar, ao mesmo tempo que trazem ao leitor suas experiências oníricas, paulatinamente vão desnudando o regime de opressão e violência promovido pelo regime autoritário e ditatorial de Angola, cuja ditadura persiste desde 1979. No caso do livro, são os sonhos que aproximam-no do fantástico, contudo, a presença de um neurocientista e das próprias inexatidões confessas tornam tudo mais difuso, de modo que as subjetividades e metáforas ganham valor com tais escolhas;

4 - Essa aproximação ou mesmo imersão ao fantástico e à metáfora, aliás, tem sido uma forma eficiente e recorrente com a qual a literatura tem usado para refletir sobre o totalitarismo e o autoritarismo, como foi o caso de grandes autores brasileiros como Érico Veríssimo e José J. Veiga quando da ditadura militar no Brasil e outros grandes nomes da literatura latino-americana. Através da "suspensão" do real ou a ressignificação desta realidade, como no caso desta obra, podemos então observar as contradições, a violência e o trauma de uma determinada sociedade de modo, que a meu ver, a literatura com tanta eficiência quanto, mas muito mais humana e decente,  torna-se uma forma de luta em nome dos oprimidos e massacrados pelos déspotas, ditadores, tiranos, etc;

5 - Todavia, para um olhar crítico de maior profundidade, diversas complexidades e contradições surgirão a partir de olhares construídos para este romance, como a própria reflexão da intensidade do engajamento de Agualusa e a discussão dos limites em panfletarismo e resistência, pois imerso no drama, o caráter ideológico de tal modo explícito provoca estas discussões. Na verdade, entre a sátira e o fantástico, diferentemente, por exemplo, das obras nacionais que falamos, as quais suas problemáticas eram colocadas por meio de uma grande subjetividade - devido também as restrições da censura -, em A Sociedade dos Sonhadores Involuntários os desejos/sonhos do autor são atirados de forma tão explícita que mais parecem um grito do que a chamada ao pensar;

10 - Enfim, A Sociedade dos Sonhadores Involuntários é uma leitura com muitas entradas e saídas. Com sua prosa envolvente entre o engajamento e a resistência é uma narrativa que certamente deve ser bem vista por leitores curiosos ou mesmo por críticos, de modo que se haverá quem não goste, provavelmente estarão nas fileiras do regime angolano. Do mesmo modo, é portanto uma leitura que nos convida a reflexões para além desta simples avaliação do blog e nos leva a debater questões ainda tão importantes para nossa sociedade, especialmente para os que anseiam por um mundo menos totalitário e autoritário.