quinta-feira, 25 de julho de 2019

conversas na mesa e palavras entre os lençóis - Iº Acto



- Este sábado vou almoçar fora de casa Adão,
- Com quem Mariana?
- Com o meu chefe! Ele exigiu, que o acompanhasse para fazer um breve relatório do novo software ligado ao IVA.
- O software do JLO, aquele do FMI ?
- Sim, este mesmo, Adão.
- Não importa, os preços estão cada vez mais altos nos armazéns, daqui a pouco enterrar as pessoas será difícil, e onde será o almoço?
- No hotel Vitória, no lugar de sempre Adão, por quê a pergunta?
- Sou seu marido, e tenho todo direito de saber, esqueceste ? Adão inclinou a garrafa de álcool que assegurava a tranquilidade do seu dia.
- Não, não esqueci, só pensei que voltarias a me proibir, como dá última vez, e não imaginas como ficou minha imagem na empresa!
- E se eu não permitisse que fosses a essa merda de reunião (°°°)
Mariana sentiu o batom a negar-lhe as pétalas de seus dedos, com as quais deslizava em seus longos e grossos lábios, feitos orquidias, as pálpebras de seu rosto balançaram de um lado para outro.
Uma instantânea vontade de gritar encerrou seu ânimo, e pensou forçar uma cabeçada bem ao centro do espelhos, que reflectia seu rosto oval, mas a energia que nascia dos pulmões a tornava frágil. O calendário marcava 13 de Abril, sexta-feira, a chuva caiu torrente no dia anterior, e muitas empresas viram seus escritórios inundados!
Adão aproximou-se dela, caminhando ao efeito do álcool, a tortemelado. Mariana sentiu os rasgos paços e o peso corporal de alguém atrás de si, a sombra do seu marido invadou-lha as emoções, cabisbaixa, tentava procurar instintos de defesa, pois vaticinava ela, que as coisas não seriam fáceis naquele instante, no fundo do corredor, o predador carregava uma garrafa de Maruvo de 45 mililitros, Adão parecia perder os reflexos, quando negou arrojar as paredes com uma das mãos para arremessar a garrafa contra o corpo esbelto de Mariana.
- Ah! Meu Deus, esquivou por acaso ela, esbugalhando os olhos de medo, os cacos da arma já haviam se estilhaçado em todo corredor.
- Sua filha da p**tá, vadia de me**da.
Mariana mulher flexível empurrou-lhe para outro lado do corredor, sentenciando sua imobilidade, estava ele sem norte a procura de equilíbrio no vazio do brusco empurrão.
- Sai seu bruxo, vai morrer longe, logrou ela, desfazendo-se do ambiente arruínavel para os filhos, que acabavam de acordar!
- Mama quero comé, pediu ainda sonolento o enteado de Adão, único filho de Mariana, sem se importar pelo pedido, Mariana jogou o puto pelas janelas, enquanto o outro, filho de Adão saiu pela portas dos fundos a gritar. Mariana enviou uma SMS a sua irmã, que viesse a buscar!
- Achas que és mulher suficiente Mariana? Levantava ele do chão, lentamente, tal e qual o efeito do álcool no sangue.
- Sim, sou mulher seu bêbado de merda, Matumbo.
- Matumbo Eu?, estás a gozar desse seu mestrado ba-ra-ra-ra-,to?
- Sim, estou ao contrário de si.
- Mas foi eu quem te deu oportunidade, como me chamas de Matumbo?
A hora do encontro de Mariana com o seu chefe estava a esfumar-se. Adão tentava arrumar seu estado corporal, e encontrar motivos emocionais para equilibrar seu discurso perante aquela mulher, que aparentava descarrilar toda história cultivada com o quarto homem de sua vida.
O celular de Mariana estava a vibrar, no écrã, - Meu Chefe!
- Quando estavas em Benguela, cheia de sarna, fui o único homem que te deu importância, hoje me chamas de quê?... - Ah meu Deus! Mariana sentiu o peso de Adão sobre os seus cabelos, a peruca estava nas mãos dele! Mas as tranças ficaram intactas, embora, desfiadas.
Ela armou-se de coragem, fechou as portas e as janelas, enquanto, Adão soluçava da embriaguez, observando a peruca de Mariana em suas mãos.
- Filha da P***tá - desabafou de raiva, seguindo a esposa, que terminava de encerrar as janelas, para afrontar seu esposo.
- Seu bicho, hoje vais me conhecer, driblou um ataque verbal, quando Adão se procurava para o próximo ataque.
O celular de Mariana voltou a tocar, era Yosefe Mwetunda, seu chefe. Ela voltou a não perceber a ligação, pois o celular estava em modo silêncio
Era a trigésima terceira luta em doze anos de vivência em comunhão de bens.
Maria, na cozinha ferveu água, e reservou uma faca de dois gumes no seu quadril. - Vou te matar, juro por Deus, e por todos meus pecados! - mordeu os lábios de raiva.
Lá fora as galinhas sacudiam-se das capoeiras, os cães ladravam e outros em estado de cio, puxavam os fios para o seu lado. Os vizinhos, ouviam e sussurravam da linguagem grosseira, que nas serpentinas das janelas procuravam asas.
Duas horas de luta, a casa estava desfeita, tela partida, frigoríficos jogados ao chão, instalação eléctrica arrancada da parede, louça partida e uma botija de gás foi vista a sair pelo teto. Reina um silêncio tenebroso.
O sangue, já se via em todo chão, procurando veias para dar vida!
O celular de Mariana voltou a vibrar, pela terceira vez, e desta alguém atendeu, e desligou no mesmo instante, preferindo enviar uma SMS, - já estou a caminho, peça o prato que eu adoro!


Bussulo Dolivro, 24 de Julho, 2019
In, conversas na mesa e palavras entre os lençóis