sexta-feira, 26 de julho de 2019

conversas na mesa e palavras entre os lençóis Acto II



IIº Acto


O ar lá fora estava tenebroso, o sangue na entrada da cozinha da residência de Mariana tinha cheiro metálico, forte, entorpecente e escorria em todo lado, os vizinhos, ansiosos sentiam a graça do atrevimento, penetrar a dentro e ver com os olhos da curiosidade pelo desfecho – Quem matou quem. Uma música abafava o silêncio.

“”Meu coração é sábio
Porque te escolheu para amar
Meus lábios gênios porque descobriram
Na tua boca
O sabor da vida
No teu ser
A minha alma gémea
E eu que julgava saber o que é ser feliz
Lá veio você me ensinar como um aprendiz
Que quando se ama
A gente ri à toa“”

O som em volume máximo era do clássico internacional angolano, Matias Damásio, acompanhada de lágrimas ao peito, Mariana, entrou descalça no banheiro, chorou aos soluços e lamentou de todas as formas, o tempo corria, e o seu chefe, ainda esperava-a no Hotel Vitória para reunião de sempre.

– Porquê? (…) perguntou aos ventos da casa.  
A espuma do sabonete escorria-lha lentamente do peito abaixo de seu ventre, deitada de costas no banheiro, Mariana jogou em suspiro a cabeça para trás, e sentiu toda história de sua vida em um piscar de olho, os músculos, glândula tiróide de seu pescoço perdiam forças. Fechou os olhos para aliviar os nervos serviçais, ao abrir os olhos sentiu alguém a bater a porta, ela já estava atrasada. Acorreu para seu quarto, e na biblioteca viu o livro de Thomas Harris – O silêncio dos inocentes.

“Um livro que narra de forma brutal o assassinato de cinco mulheres em diferentes locais dos Estados Unidos. A jovem agente do FBI Clarice Starling consulta o psiquiatra Hannibal Lecter, internado em um manicômio judiciário, para solucionar os casos e chegar até o assassino. Hannibal, que possui uma mente psicopata voltada para o crime, aponta pistas que acabam por envolver Clarice em uma trama mortífera e perigosa, porém foi o livro de Mozuer Jocand, “Murmúrios do Silêncio” um escritor angolano, que o chamou atenção”.

– Quem é? - Perguntou Mariana, para um silêncio sem volta. Parecia ter ouvido alguém a bater o portão.

Jogou o livro em sua bolsa e rapidamente aproveitou trocar de roupa, espraiou em seu decote volumoso o perfume “Yves Saint Laurent” oferecido pelo seu Chefe, durante as férias em Berlim. A casa estava limpa, e o cadáver de Adão guardado a 13 chaves. O cheiro do sangue de lugar ao perfume Yves Saint Laurent sentia-se até às janelas da vizinhança. Mariana abandonou a residência com a chave na ignição do “W Motors Lykan Hypersport – US$ 3,4 milhões de dólares, Com linhas bem pouco fluídas, mas um perfil aerodinâmico elevado, o bólido do Oriente Médio não é muito atraente, mas seu luxo e poder o fazem ser um diferencial entre os super carros.”.

Os putos na banda dizem que Mariana enfeitiçou todas mamoites só pra subir na vida, e outros a acusam de matar seu próprio pai na noite das festividades do Efico – “sistema tradicional das comunidades Nhaneca, Humbi, Mucubais, Kwanhamas no do Sul de Angola que marca a transição das meninas da fase de adolescente para a adulta” por terem-na encontrado sobre o cadáver do mesmo, e dias depois Mariana acordara com o corpo cheio de sarna, e os sobas disseram tratar-se de praga de seu pai. – Não havia outra explicação, até que ela fugiu de Benguela com Adão, antigo taxista de Luanda.
 – Dois minutos depois Mariana gozava os pneus confortáveis do “W Motors Lykan Hypersport” na Via Expressa, a uma velocidade de 200h/km. Atras fica, a incerteza do seu regresso e a descoberta do cenário de um crime, cujas razões a frieza de Mariana pode dificultar.

O elevador central do Hotel Vitória estava ocupado, Mariana tem acesso directo a cava de estacionamento, a passos de glamour, com o corpo imerso num vestido de gala de 700 mil dólares, fino e restas transparentes desafiava a inercia ocular dos demais, que se encontravam na sala principal daquele Hotel, o Chefe, curioso olhou atrás, e sentiu o volume de seus pecados debaixo de seus testículos. A esferográfica cai da mesa.

– Então, a que se deve ao atraso, perguntou gentilmente o chefe.
– Tive de pagar algumas contas de casa, - Mariana suspirou de seguida, retirando o chapéu francês de cor azul do volume cacheado de seu cabelo.
 – Estás linda, disse o Chefe! – Obrigada respondeu, jogando as pálpebras às nuvens, dirigindo um olhar para o garçon, como quem pedisse o menu para o prato do dia. O chefe, Muetunda, consultava o relógio. 

  
Bussulo Dolivro, 25 de Julho, 2019 In, conversas na mesa e palavras entre os lençóis,