EM
uma época muito antiga, quando as bananeiras produziam poucas bananas, existiam
numerosos macacos.
Havia um deles
chamado Travesso, que morava nas margens do rio.
O macaco
Travesso possuía um grupo de bananeiras que lhe proporcionavam frutos
suficientes para a sua alimentação, o que lhe trazia satisfação e orgulho
porque os seus frutos eram os mais saborosos da região.
No rio
habitava o hipopótamo Ra-Ra, que era o rei daquelas paragens.
A corpulência
desse animal era notável e tão grande a sua boca, que podia tragar seis macacos
de uma só vez.Além disso, gostava imensamente de bananas e, especialmente as da
propriedade de Travesso.
Ra-Ra resolveu
roubar-lhe as bananas, apesar de não ser um ato muito bonito para um
rei.Ordenou então a todos os papagaios que as trouxessem para a sua residência.
Entretanto, o
macaco não arredava pé do seu grupo de bananeiras, a fim de impedir que
desaparecessem os seus preciosos frutos.
Os papagaios
logo encontraram este obstáculo sério e recorreram à astúcia para cumprir as
ordens do rei. Após uma conferência de várias horas estudando diversas soluções
para resolver eficientemente o problema do roubo, concordaram em dizer ao macaco que seu irmão estava muito doente e desejava
vê-lo.
Quando
Travesso recebeu a notícia, bom irmão que era, foi depressa procurar seu irmão
doente. Verificou logo que aquilo não era verdade. Seu irmão estava gozando de
boa saúde e, suspeitando imediatamente do que se tratava, voltou a toda pressa
para perto de suas bananeiras.
Uma surpresa
dolorosa o aguardava. Não ficara nem uma banana para semente. Enquanto
lamentava sua perda aproximou–se um papagaio, dizendo-lhe:
— Oh!,irmão
Travesso! Sabes que Ra-Ra, o hipopótamo, nos obrigou a roubar-te as bananas e
depois não nos quis dar uma só!
— Ah! E’
assim? Então espera… Irei à casa de Ra-Ra e tirar-lhe-ei as minhas bananas! —
exclamou o macaco.
A serpente,
que é um animal invejoso, cheio de defeitos, dos quais o pior é o espírito de
intriga, passou por ali por acaso quando o macaco falava e, ato contínuo, foi
contar tudo ao hipopótamo.
— Está
bem! — disse Ra-Ra. — Em tal caso ordeno ao Travesso que compareça aqui quanto
antes.
A Serpente
voltou ao lugar em que vivia Travesso e lhe deu a ordem de Ra-Ra, de modo que o
macaco se pôs a tremer, pois, não era tão valente como as suas palavras
pareciam revelar.
Era preciso
obedecer e quando se dispunha a fazer a desagradável visita ao hipopótamo,
ocorreu-lhe uma idéia. Preparou com o maior cuidado uma boa quantidade de
visgo, a cola que usava para caçar passarinhos, e untou-se com ele muito bem. Feito
isto encaminhou-se para a casa de Ra-Ra, à margem do rio.
— Disseram-me
— disse-lhe o hipopótamo, ao vê-lo — que ameaçaste de vir recobrar tuas
bananas. É certo que o disseste?
— De modo
algum, senhor — respondeu Travesso. — Tanto minhas frutas como eu mesmo,
estamos à sua disposição.
— Bem, fico
muito satisfeito em ouvir estas palavras. Sem dúvida, quiseram fazer intriga e
contaram-me essa mentira. Senta-te. Porém, procura fazê-lo de frente para mim e
sem tocar em nenhuma das bananas que estão atrás de ti.
Assim fez
Travesso, apoiando com força as costas, inteiramente untadas, contra as
bananas.
— Disseram-me
que sabes muitas histórias. Queres contar-me uma?
O macaco
dispôs-se a satisfazer o desejo de seu soberano e lhe contou uma história muito
interessante.
Enquanto isso
não se esquecia de esfregar o corpo contra as bananas afim de que aderisse às
suas costas o maior número delas.Terminado o conto, Ra-Ra disse-lhe:
— Obrigado.
Podes sair, mas toma cuidado para saíres de frente para mim. Assim se deve
fazer diante de um rei.
Nada podia
favorecer melhor o macaco, que estava com as costas cheias das bananas que a
elas se haviam colado.
Quando se viu
fora da casa do hipopótamo, pôs-se a correr, ocultando-se.
Os papagaios
não tardaram a descobrir a astúcia do macaco e foram correndo contar a Ra-Ra.
O hipopótamo,
ao tomar conhecimento da notícia, teve tão grande ataque de raiva que virou de
barriga para o ar, morrendo instantaneamente.
Então, os
animais reuniram-se e, diante da inteligência do macaco, resolveram aclamá-lo
soberano.
Ficou muito
conhecido por sua esperteza e deram-lhe, então, o nome de Sua Majestade
Travesso I, o Esperto.
E o seu
governo foi sábio e prudente, durante anos e anos.