Antes de mais quero saudar calorosamente os participantes deste V Encontro de Literatura Infantil e Juvenil, realizado pela Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro, regozijando-me pelo facto de estar entre ilustres especialistas de diferentes áreas.
Estou convicta de que este V Encontro proporcionará a todos os participantes e a mim, muito particularmente, trocas de experiência bastante significativas, que certamente concorrerão para a melhoria e expansão deste género literário, tão necessário para o desenvolvimento harmonioso da personalidade da criança, o cidadão do futuro. Pois, através da literatura a criança desenvolve a capacidade de observação, imaginação, análise e síntese.
De aplaudir o facto do Encontro ter como objectivo a consciencialização da importância da leitura e do estímulo ao prazer de ler, com base em obras literárias de qualidade. A qualidade das obras realçada é, deveras, um requisito essencial. As obras devem ter qualidade, quer do ponto de vista da emoção que proporcionam, quer em relação à verdadeira ligação à criança, embora muitos pensem, erroneamente, que escrever para crianças é o que há de mais fácil e que qualquer coisa serve para elas.
Antes de entrar propriamente no tema que me propus apresentar vou traçar uma panorâmica da literatura latu sensu, particularmente no que concerne à trajectória que a mesma conheceu na Angola pós-independência, porque a literatura infantil é, antes de tudo, literatura. Ela pressupõe arte, beleza e deleite e não obstante o termo infantil que a adjectiva, "nada impede que agrade também ao adulto, assim como nada modifica a sua característica "literária", se escrita para o adulto, agradar e emocionar a criança. (Pina, Juraci Coutinho).
Tendo a literatura uma função social, vinculada à função estético-educativa, ao tratar-se de literatura infantil, particularmente, ela deve ser concebida, visando não só o deleite e a recreação mas igualmente a formação. Razão porque os Encontros para debate deste género literário contam sempre com a participação de pedagogos, professores, psicólogos, artistas plásticos e outras pessoas com afinidades às ciências e técnicas da educação, de modo a contribuírem com a experiência acumulada no campo da educação/formação e no acompanhamento psicológico e pedagógico dos mais novos, sendo certo que as propostas e sugestões que apresentam enriquecem a literatura infantil, género literário de suma importância, mas muitas vezes relegado para segundo plano.
Recorrendo ao conceito de objecto transacional, da autoria do psicanalista e psiquiatra inglês Winnicott (Winnicott, Donald), Daniel Sampaio, médico psiquiatra português, considera o livro infantil um "objecto transitivo", que pode ser definido como qualquer objecto não materno usado para apaziguar, acalmar o próprio (por exemplo urso, lençol, cobertor). É um indicador precoce da capacidade de ver o self (o próprio) como separado do objecto (inicialmente a mãe ou substituto materno). Permite manipular, dominar os acontecimentos externos, permite a descoberta do outro - o eu e o não eu. ( Boletim Cultural, número especial 1999).
Para melhor entendimento do processo de surgimento e desenvolvimento da literatura angolana pós-independência, achei conveniente iniciar pela abordagem de aspectos relacionados com a ascensão à independência, que penso serem desconhecidos de muitos dos presentes. Assim sendo, importa referir que Angola ascendeu à Independência a 11 de Novembro. Foi às zero horas do dia 11 de Novembro de 1975, no Largo 1º de Maio, hoje denominado Largo da Independência, que o primeiro presidente da República, o médico escritor Dr. António Agostinho Neto, pronunciou numa voz embargada pela emoção o discurso da proclamação, imortalizado pelas palavras: "Às 0 horas do dia 11 de Novembro de 1975, sob o olhar silencioso de Lénine, o Bureau Político do MPLA proclama solenemente perante a África e o mundo a República Popular de Angola".
E, em uníssono, os angolanos em todas as latitudes da imensa Angola vibraram de regozijo.
Entrementes, enquanto muitos angolanos explodiam de contentamento pelo nascimento da Nação, outros, em localidade não muito distante de Luanda, continuavam a combater as forças que impediam, a todo custo, que o desfecho do 11 de Novembro assim fosse. E a guerra fratricida durou mais de duas décadas...
Um mês depois, a 10 de Dezembro de 1975, foi proclamada a União dos Escritores Angolanos (UEA), por um punhado de cidadãos, alguns já reconhecidos escritores, como António Agostinho Neto, António Jacinto, Luandino Vieira, Arnaldo Santos, Artur Pestana (que usa o apelido de guerra Pepetela, que significa pestana em kimbundo), Agostinho Mendes de Carvalho (de nome kimbundo Uanhanga Xitu), Manuel Rui Monteiro e outros tantos, alguns ainda desconhecidos. Apenas uma mulher subscreveu a acta constitutiva da UEA, essa mulher é Maria Eugénia Neto, esposa de Agostinho Neto, que fazia parte da lista de escritores sem obra publicada na altura.
Agostinho Neto, autor da obra poética de renome Sagrada Esperança, foi eleito primeiro presidente da Assembleia-Geral da União dos Escritores Angolanos, tendo a tomada de posse tido lugar a 24 de Novembro de 1977.
As palavras que Agostinho Neto proferiu no acto de tomada de posse serviram de orientação para a forma como devia ser encarada e tratada em Angola a cultura nacional, em particular a literatura. Passamos a citar alguns extractos do discurso :
"... A literatura, na Angola independente e caminhando para uma forma superior de organização social - o Socialismo - tem de, necessariamente, reflectir esta nova situação." (Neto, 1977)
".... No passado, a nossa literatura mergulhou profundamente na cultura europeia - era mesmo uma parte da literatura da Europa - cujas correntes foram seguidas e uma das suas línguas utilizadas como único meio de expressão..."
"..... Hoje, a nossa cultura tem de ser reflectida tal como ela é, sem deformações, sendo ela própria o motivador da literatura..."
".... Quero dizer que esta União de Escritores é chamada a desempenhar um papel importante na nossa Revolução..."
"... Espero que esta União dos Escritores esteja ao serviço do nosso povo, ao serviço dos operários, dos camponeses que constituem as classes mais exploradas do nosso país."
Com Angola livre da opressão colonial, com a instituição da UEA e todo o incentivo dado pelo homem de cultura, o presidente Agostinho Neto, a produção literária não se fez esperar. Muitas oportunidades e horizontes se abriram para os angolanos amantes das letras. A UEA, que para além de ser uma organização associativa chamou também a si a actividade editorial, em muito pouco tempo fez sair uma série de obras, algumas delas reedições de livros de autores que já tinham dado à estampa na era colonial, a exemplo de Luandino Vieira com a "A Vida Verdadeira de Domingos Xavier", escrito em 1961, cuja 1ª edição foi publicada em 1974 em Lisboa, pelas Edições 70.
Aqueles que escreviam e guardavam seus textos em gavetas, os que queimaram o tempo preenchendo folhas de cadernos durante o cativeiro nas masmorras coloniais e no exílio, ou nas zonas de guerrilha libertadas saíram do anonimato. A UEA foi, de facto, a primeira editora angolana, tendo publicado no início obras de grande valor literário e em grandes tiragens. Do lado das pessoas houve grande entusiasmo, havia a ânsia de conhecer a literatura angolana escrita pelos próprios angolanos, e mesmo os que não sabiam ler adquiriam livros, talvez com a esperança de em pouco tempo poderem lê-los, visto que a tarefa de alfabetização conheceu grande dinamismo e adesão populacional durante o regime socialista que vigorou nos primeiros anos de independência.
A temática mais recorrente dessas obras era a denúncia da opressão e descriminação do sistema colonial, a resistência e a luta do povo. Uma literatura eivada de sentimentos de mágoa e utopia - a esperança num promissor provir para todos. Os hábitos e costumes tradicionais ganharam expressão dentro das obras. Estes aspectos podemos encontrar na vasta obra de ex-presidiário do Tarrafal, o escritor Uanhanga Xitu - "O Meu Discurso", 1974; "Mestre Tamoda", 1974; "Bola com feitiço" 1974; "Manana", 1974, etc...
Todo este historial foi para chegar, efectivamente, ao surgimento da literatura infantil angolana pós-independência, porque, como acima já foi referido, a literatura infantil é antes de mais literatura, logo a génese da literatura infantil não poderá estar dissociada da literatura angolana no seu todo.
Ora, dentro da euforia revolucionária e literária o que se produziu então para crianças? Que lugar ocupou ela dentro da literatura?
Quando se trata de literatura para adultos, em princípio, cada um é livre de escrever o que quer e como quer, bom ou mau, ficando a apreciação crítica ao critério do leitor. Mas quando se trata de escrever para crianças é diferente, quem escreve tem a obrigação de produzir o melhor. É uma escrita que requer maior cuidado e atenção - linguagem e ilustração fantasiosa e imaginativa para cativar, bastante perspicácia na elaboração do texto e na forma singela como devem ser abordadas as questão penosas, de maneira que a criança continue a imaginar e a sonhar e consiga perceber que pelo caminho da vida existe também dor, mas que por trás da dor é possível ver florescer alguma coisa de belo.
O escritor que escreve para crianças não se pode distanciar delas, que são os principais destinatários, por isso as obras devem adaptar-se à correspondente faixa etária, que nem sempre corresponde à idade biológica, o que pressupõe um conhecimento mínimo da psicologia infantil.
É um facto que muitas das obras para adultos, produzidas no fervor da independência gravitavam em torno da infância. Uma infância traumatizada, mal ou nem sequer vivida por muitos dos angolanos, uma vez que não tinham tido a possibilidade de ir à escola, eram obrigados a refugiar-se nas matas com familiares para escapar à perseguição das forças coloniais, ficavam órfãos prematuramente, presenciando muitas vezes o assassínio dos pais, ou tinham que deixar precocemente o seio familiar para ir ganhar a vida como criados dos colonos. Os rapazinhos ao ver os pais partir para o contrato, trabalho duro nas roças de café e estradas, anteviam a sorte que os esperava, pois esse era o destino de muitos nativos Porém, durante a infância, muitas crianças, enquanto permaneciam no seio familiar ou mesmo refugiadas nas matas, tiveram a oportunidade de ouvir contar histórias, não propriamente infantis, pois a oratura destina-se a todos àqueles que à volta da fogueira ou debaixo de uma árvore ouvem da boca dos mais velhos os contos que vão passando de geração em geração. (Pepetela, As Aventuras de Ngunga, pag 23)
Logicamente que essa literatura oral mantém-se viva na mente dos mais velhos e as crianças continuam o ouvir contar histórias, particularmente nas zonas rurais. "e a criança ou sabe as histórias antigas porque as ouviu contar, ou é urbanizada com três gerações de pé calçado e ninguém lhas contou". (Manuel Rui, colóquio sobre literatura infantil-1986)
E, à volta da questão sobre que tipo de livros dar às crianças, as opiniões dividiram-se. De um lado, os que advogavam que convinha fazer adaptações dos contos tradicionais, alterando o que necessário fosse, a fim de dar a conhecer aos mais novos os traços da cultura tradicional angolana; de outro lado, os que opinavam que não se devia de modo algum transformar o que já vinha de tantas gerações, quase sacralizado, e havia ainda quem levantasse a questão da linguagem, optar pelo português ou pela linguagem popular? Ora, sendo a nossa forma de falar tão diversificada de região para região e não existindo a priori normas linguísticas, qual seria então a eleita? Questão complicada que ficou sem solução.
Enquanto isso, no dia 1 de Dezembro de 1977, o Conselho Nacional de Cultura fez sair a obra infantil "A Caixa", da autoria do escritor Manuel Rui, para comemorar o 1º de Dezembro, o Dia do Pioneiro Angolano.
O livro "A Caixa" de Manuel Rui foi o primeiro livro infantil escrito pós-independência. Ele tem uma apresentação muito modesta e a particularidade de utilizar uma linguagem diríamos popular (.......Mas o Kito, no tempo dele de quatro anos de idade, uma hora é já tempo de fazer saudade.- pag 12) e ter sido ilustrado por crianças, o que talvez não tenha agradado tanto às outras crianças, por serem desenhos demasiado ingénuos e sem coloração, o que torna a ilustração pouco atractiva.
"A Caixa" de Manuel Rui conta a história de Kito, uma criança que foge da guerra da Quibala, localidade do kuanza-Sul, após a perda do pai. Órfão, Kito refugia-se em Luanda com a mãe, indo viver numa zona suburbana.
"...Nunca contou mesmo a estória da guerra na Quibala. Quem lhe matou o pai e depois fugiu com a mãe até aqui em Luanda". (pag 8)
Em Luanda Kito encontra outras crianças e com elas se diverte a recuperar da cooperativa caixas de cartão vazias, idealizando com elas meios de transporte que manobram, tais como camião, machimbombo(autocarro), comboio e, quando um dia Kito descobriu o mar, para ele a caixa também podia ser barco e mar. "É um maximbombo. É um barco. É o mar" (pag 16).
Ao que outra criança contraria "...não pode ficar tanta coisa duma vez. E o mar nunca pode ser uma caixa porque o mar não acaba. É tão grande como o céu." ( pag 16) O drama da guerra da Quibala, que a mãe recorda constantemente a Kito (......você não sai, lembra-te aos tiros da Quibala, fugi contigo no colo. - pag 12), foi aliviado pelas manifestações de solidariedade, amizade, amor que ele recebeu das crianças que encontrou em Luanda.
Com elas Kito foi perdendo ao poucos a timidez, e até aulas de política recebeu, pois ensinaram-lhe palavras de ordem, falaram-lhe das FAPLA - Forças Armadas de Libertação Nacional, da bandeira nacional e do MPLA- Movimento Popular de Libertação de Angola.
"A Vitória é Certa!" "No fim os outros gritaram: - É certa! - Kito, fala também - disse a Lisete. - É certa. "(pag 4)
No essencial o livro aborda o drama da guerra civil que eclodiu logo após a proclamação da independência, os aspectos sócio-políticos da época, a cultura do amor e solidariedade entre as pessoas, a descoberta da bondade das coisas associada à pureza da natureza, às flores("... Mas ela não é nada feiticeira. Uma feiticeira não dá flores. O maluco fala à toa...”pag.8).
Manuel Rui mostra também até onde a imaginação pode levar as crianças - Kito é maquinista de comboio sem nunca ter visto um comboio.
A figura do maluco aparece entre as personagens, porque era frequente verem-se malucos deambular pelas ruas da cidade, atemorizando as crianças.
Sobre a linguagem utilizada, sem atender às regras gramaticais da língua portuguesa, houve algum cepticismo por parte de pessoas ligadas ao ensino, questionando se seria aconselhável escrever daquele modo para as crianças que estavam em fase de aprendizado da língua portuguesa, a língua oficial adoptada para o ensino.
A Manuel Rui cabe, portanto, a honra de ser o primeiro escritor a produzir obra para crianças em Angola, logo após a independência.
Do mesmo autor em 2002 o INALD editou a obra "Conchas e Búzios".
Porém, Pepetela, o professor guerrilheiro, havia escrito nas zonas libertadas do MPLA um livro que se destinava ao ensino de crianças e adultos, intitulado "As Aventuras de Ngunga", editado pela primeira vez em 1972, pelo Serviço de Cultura do MPLA. Na verdade, foi este o primeiro livro infantil angolano que chegou às mãos do público fora das matas, editado em 1975 pela União dos Escritores Angolanos.
Maria Eugénia Neto também escreveu durante a guerrilha a obra "A Montanha do Sol", mas esta apenas foi editada pela primeira vez em 1989 pelo CEBI- Centro de Bem-Estar Infantil de Alverca(Portugal).
Nestas duas obras de autores profundamente engajados política e ideologicamente à causa nacional, vamos encontrar uma narrativa tendente a situar e integrar as crianças no contexto sócio-político da fase revolucionária. Cada obra tem, no entanto, características peculiares no que concerne ao conteúdo, forma de abordagem e apresentação gráfica.
No livro "As Aventuras de Ngunga" (1972), para além do narrador encontramos outras tantas personagens, tem mais de meia centena de páginas e não contem ilustrações; "A Montanha de Sol - 1989" é um pequeno texto de seis páginas, escrito em letra de grande tamanho e conta com ilustrações da artista plástica angolana, radicada em Portugal, Filomena Coquenão, o que torna um livro atractivo para as crianças, quer pela curta narrativa, quer pela cor das ilustrações.
Contudo, não percamos de vista que uma das maiores preocupações das chefias da guerrilha nas zonas libertadas do MPLA era a alfabetização do povo (Aventuras de Ngunga, pag 25, 32, 68), e que o livro de Pepetela destinava-se indistintamente ao ensino de crianças e adultos. Ora, embora tratando-se de uma narrativa mais extensa, ela é escrita de uma forma bastante simples e muito elucidativa, sendo os capítulos curtos, de uma a duas páginas, estrutura que parece ser propositadamente preparada para ministrar as lições, como se cada capítulo se destinasse ao sumário de uma aula.
Pelo facto dos dois livros terem sido escritos no decorrer da guerra colonial, em que a educação era uma prioridade nas zonas libertadas e a ideologia marxista a orientadora, eles apresentam similitudes nesta óptica. Ambos são apelos revolucionários.
Em "As Aventuras de Ngunga", a denúncia das agruras e as barbaridades perpetradas pelos colonialistas é claramente evidenciada, como se pode ler logo no 1º capítulo, quando o narrador apresenta Ngunga, o protagonista do livro: "Ngunga é um órfão de treze anos. Os pais foram surpreendidos pelo inimigo, um dia, nas lavras. Os colonialistas abriram fogo. O pai, que era já velho, foi morto imediatamente. A mãe tentou fugir, mas uma bala atravessou-lhe o peito. Só ficou Mussango, que foi apanhada e levada para o Posto. Passaram quatro anos, depois desse triste dia. Mas Ngunga ainda se lembra dos pais e da pequena Mussango, sua irmã, com quem brincava todo o tempo..." (pag 8)
Com a morte dos pais Ngunga encontrou-se sozinho no mundo, desprovido de tudo. A pessoa que o acolheu, e dele bem cuidou na secção de guerrilha, foi o comandante Nossa Luta, mas pouco tempo depois o comandante foi transferido e pela segunda vez se viu órfão. A partir daquele dia foi obrigado a crescer rapidamente para poder sobreviver. Foi muitas vezes maltratado, injustiçado, tornou-se precocemente guerrilheiro. Sua vida foi um incessante errar por vários kimbos(sanzalas) das secções de guerrilha e foi neste errar que conheceu toda a sorte de pessoas, disparou, matou e apoderou-se de armas do colono, apaixonou-se, desiludiu-se, até ser persuadido pelo comandante Mavinga e estudar.
Durante a sua trajectória de vida conheceu pessoas boas e más, outras egoístas, invejosas, mentirosas, caluniadoras, arrogantes e traiçoeiras, de maneira que por vezes se viu forçado a denunciá-las. Enfim, conheceu homens com suas virtudes e defeitos. E passando de local em local, de conhecimento em conhecimento, de decepção em decepção, Ngunga dizia que queria ver o mundo, "mas a verdade ele não dizia", o que ele efectivamente procurava era saber se em toda a parte os homens são iguais, só pensando neles (pag. 22). E sua conclusão foi que os homens bons eram apenas aqueles que ainda tinham algo de criança dentro de si como o professor União, que acabou também por perder.
E quando se apaixonou por Uassamba, um amor impossível porque a mesma já estava casada com um velho que pagara o alembamento(dote) à família, revoltado, perguntou "porque o mundo era assim? Tudo o que era bonito, bom era oprimido, esmagado, pelo que era mau e feio".(pag 75) Mas, apesar da maldade dos homens, ainda assim Ngunga descobriu neles uma coisa gratificante "... bons ou maus, todos tinham uma coisa boa: recusavam ser escravos, não aceitavam o patrão colonial". (pag, 56, 58)
Finalmente Ngunga parou, reflectiu e acabou dando razão ao comandante Mavinga que lhe dizia que um homem só podia ser livre se deixasse de ser ignorante. Mudou de nome, um segredo que ficou só com ele e a mulher por quem teve o amor impossível, e partiu em busca de conhecimento para se tornar homem livre. E no anonimato se perdeu...
"As Aventuras de Ngunga" de Pepetela são, na verdade, ensinamentos de grande pendor revolucionário e didáctico: -um incitamento à luta de libertação, ao estudo e à consciencialização para o dever de colocar o bem colectivo acima de tudo.
Em "A Montanha do Sol"(1989), Maria Eugénia Neto, narra de forma simbólica a situação de privação de liberdade e do atraso do povo.
A fúria do vulcão que se acendeu durante a tempestade que assolou uma aldeia, impediu as pessoas de saírem de casa durante vários dias, particularmente as crianças que nem podiam pôr o narizinho fora da janela, levando todos ao desespero. (pag 2)
Depois da tempestade veio a bonança e do vulcão emergiu uma montanha que pediu para lhe chamarem Welgénia. (pag 1,5) Welgénia que é a junção de Welvitchia, nome da flor do deserto da Namibe, mais Eugénia: "significa abraço entre todos os homens. Amor entre todas as crianças, progresso e uma vida melhor." (pag 6)
Da leitura desta narrativa pode-se concluir que a autora se propunha enunciar as dificuldades que o povo enfrentava, a sua privação de liberdade, o obscurantismo e a emergência de sair daquela situação.
E o bom tempo, o sol que voltou a brilhar e tudo quanto ficou bonito na aldeia, desde os telhados, às ruas e os campos depois da tempestade, que para as pessoas pareceu ter acontecido de repente, foi contrariado por uma voz personificada, saída do vulcão, que disse que as coisas não tinham se refeito tão de repente, tinham levado o seu tempo. (pag.5)
Nesta passagem infere-se um incitamento para a necessidade de resistência, para que a longa noite colonial tivesse fim e mudanças se operassem na sociedade, mudanças que levariam, no entanto, tempo a conquistar.
A aldeia ilustra como o "sacrifício colectivo, não obstante a privação momentânea, se reverte em bem colectivo de duração indeterminada" ( Moniz, Fábio, Entre Fábulas e Alegorias-2007. pag 60)
A montanha Welgénia, simboliza, pois, progresso e esperança: "Eu sou a ciência da vida! Sou o amor no planeta, sou a paz para as gerações futuras, sou a luz da compreensão que banirá os preconceitos antigos... Welgénia é o meu nome!". (pag. 6)
Intertextualizando as duas narrativas, concluímos que ambas visavam formar e informar as futuras gerações para as questões do presente e a perspectiva do futuro, mentalizando-as que só através de estudo e da participação nas tarefas da revolução, a situação de opressão e o obscurantismo poderia ser revertida.
Detive-me um pouco na análise das três obras porque elas correspondem ao desabrochar da literatura infantil angolana pós-idependência.
Depois de Manuel Rui, Pepetela e Maria Eugénia Neto outras iniciativas, outros autores e obras foram surgindo, como é óbvio.
A escritora Maria Eugénia Neto conta com mais de uma dezena de livros entre os quais:
"E nas Florestas os Bichos Falaram" - 1977, que recebeu o Prémio de Honra da Comissão Cultural da então RDA para a UNESCO(1977)- Leipzig, é uma edição de luxo, com belas ilustrações do artista plástico António Domingues. Contudo dada a dificuldade do vocabulário empregue, o livro está mais dirigido à compreensão dos adolescentes e adultos do que das crianças:
"Foi Esperança e Foi Certeza"- 1979; "As Nossas Mãos Constroem a Liberdade", etc. Por toda a obra de Maria Eugénia Neto perpassa a vida e obra de seu marido, António Agostinho Neto, primeiro presidente da República de Angola.
A nível da imprensa radiofónica surgiu no início dos anos oitenta o programa Rádio-Pio e na imprensa escrita, no Jornal de Angola, uma página Suplemento Infantil, com o objectivo de difundir histórias angolanas, pelo que se tornava imperioso haver quem as escrevesse. Deste modo, a partir de um núcleo de funcionários do INALD- Instituto Nacional do Livro e do Disco, órgão adstrito à então Secretaria de Estado da Educação e Cultura, surgiram os escritores de literatura infantil Dário de Melo, Octaviano Correia, Gabriela Antunes, Rosalina Pombal e Cremilda de Lima. A maioria desses escritores estavam ligados ao ensino e grande parte dos contos escritos começaram por ser adaptações de contos tradicionais.
No período de 1982 a 1983 a divulgação de contos infantis estendeu-se à revista de televisão TVeja, por intermédio dos escritores Dário de Melo e Octaviano Correia que, na altura, faziam parte da redacção do periódico.
Com razão o escritor Dário de Melo, um dos percursores, da literatura infantil afirma: "pode dizer-se sem receio de errar que a literatura Infantil nasceu e foi divulgada em Angola através do suplemento do Jornal de Angola e com a Rádio-Piô - na altura, e durante muitos anos, o mais prestigiado veículo de informação e formação infantil". ( Dário de Melo)
Dário de Melo acrescenta ainda : "fenómeno interessante é que uma parte dos nossos ouvintes, grande parte daqueles que escreviam para nós e que connosco tentavam colaborar enviando-nos estórias, contos tradicionais e adivinhas, eram jovens a prestar serviço militar; ...Maravilhados de terem descoberto que aquilo que tinham ouvido nos seus quimbos(estórias, adivinhas, etc.) tinha interesse, uma utilidade, para além das portas de suas casas. Porque o programa tinha um interesse muito forte no que diz respeito às realidades presentes e passadas do país..." .
Foi, pois, a partir das histórias escritas no Jornal de Angola e das que eram contadas nos programas infantis da rádio que surgiu a colecção Piô-Piô, editada pelo INALD-Instituto Nacional do Livro e do Disco, com os poucos recursos existentes. Era uma colecção que contava com livrinhos de pequeno tamanho e letra, ilustrados e impressos em Angola.
Dessa colecção saíram doze histórias, escritas por seis autores e ilustradas pelo artista plástico António Domingues.
Alguns desses autores e respectivas obras são: Dário de Melo "Quem vai lá Buscar o Futuro"; Cremilda da Lima "O Tambarino Dourado"; Octaviano Correia "O Patinho Que Não Sabia Nadar"; e "Lutchila" de Rosalina Pombal. Esta autora morreu muito precocemente, pouco depois do lançamento da sua obra.
Apareceu depois a colecção Mirui, também editada pelo INALD e desta colecção fazem parte "O Castigo do Dragão Glutão" e "A Noiva Do Rei" de Gabriela Antunes; "O Assalto" livro de poemas de Manuel Rui.
Octaviano Correia foi premiado em Leipzig e Brastilava com a obra "O País das Mil Cores" - 1980.
A década de oitenta foi, de facto, o período de maior produção literária. Mas, importa referir que a guerra fratricida que eclodiu logo após a proclamação da independência prosseguiu, e, em consequência, novos fenómenos foram acontecendo e expandindo-se por toda Angola, tais como o aumento dos deslocados de guerra e de crianças de rua, a "banalidade" da vida, pois a mesma podia sumir a qualquer instante e em cada esquina, à vista de gente grande e pequena.
Ora, a problemática da guerra, que abalou o país por três décadas, embora tratando-se de um tema doloroso, ocupou também espaço na literatura infantil, uma vez que a criança fazia parte do horrendo palco da guerra e em muitas casos era ela a própria protagonista.
Os anos oitenta foram, de facto, anos de grande produtividade editorial, o escritor Dário de Melo escreveu entre originais e adaptações da literatura oral mais de meia centena de livros.
Entrementes, o grupo dos incentivadores do INALD desmembrou-se e a partir daí foi-se assistindo a uma quebra na produção. Infelizmente a maioria das obras daquela época não conheceram reedições, pelo que as novas gerações desconhecem-nas.
No decorrer da mesma década a União do Escritores Angolanos, dentro da colecção Acácias Rubras, editou algumas obras infantis, entre elas: "Um Poema e Sete Estórias de Luanda e do Bengo" de José Alves; "Era Uma Vez Que Eu Não Conto Outra Vez" de Octaviano Correia; "Estórias Velhas, Roupa Nova" de Gabriela Antunes; "Fá...PE...LÁÁÁ!!!" de Maria de Jesus Haller; "No País da Brincadeira" e "Queres Ouvir?" de Dário de Melo.
Em 1990, também na colecção Acácias Rubras-UEA, surgiu a obra inédita "A Borboleta Cor de Ouro" da autoria de Maria Celestina Fernandes, uma mulher que já vinha escrevendo para crianças desde 1982. Os seus primeiros trabalhos foram publicados na página cultural do Jornal de Angola e no Boletim da Organização da Mulher Angolana. Para além do conto "A Borboleta Cor de Ouro" que dá título ao livro, o mesmo contém mais três histórias: "A Rosa e o Antúrio", " O Mosquito Aventureiro", "A Menina e o Canguru".
São quatro histórias de temática variada, que procuram transmitir valores morais e didácticos às crianças. A natureza, o belo e o maravilhoso, o amor, amizade e a solidariedade, o respeito pelos mais velhos, a guerra e a paz são aspectos que trespassam por esses contos e todos os demais escritos por esta autora.
Em 1991 a União dos Escritores Angolanos-colecção Acácias Rubras, editou a obra de Gabriela Antunes "O Cubo Amarelo", uma das obras mais conhecidas da escritora. Naquele mesmo ano o INALD editou a segunda obra da escritora Maria Celestina Fernandes "Kalimba" - 1991. A autora conta já com mais de uma dezena de títulos publicados em três editoras do país (UEA, Chá de Caxinde, INALD).
A obra "A Árvore dos Gingingos" foi lançada em 1993, em Portugal pelas Edições Margens. O livro tem o prefácio do escritor Luandino Vieira e ilustrações de Viteix, que foi um dos mais notáveis artistas plásticos angolanos.
Pela abordagem da tradição angolana concernente ao culto prestado aos gémeos, o conto "A Árvore dos Gingongos" mereceu um estudo da escritora de literatura infantil Edna Bueno, introduzido no livro de ensaios sobre Literatura Infantil de Angola e Moçambique "Entre Fábulas e Alegorias" (Cármen Tindó Secco - Org, pag 131, 2007).
O livro mais recente da escritora, intitulado "É preciso Prevenir"(UEA - 2007), aborda de forma muito subtil a problemática do VIH/SIDA.
No ano de 1992 despontou a escritora Maria João, professora, natural e residente no Lubango. Tem publicadas, entre outras, as obras "A Gotinha Rebolinha"(1991-UEA); "A Escola e Dona Lata", este conto fala do papel que as latas de leite ocupam, quando utilizadas como assentos nas escolas desprovidas de carteiras; "Viagem das Folhas de Caderno", que aparece em duas colectâneas.
A partir de 2000 novos autores entraram para o mundo da literatura infantil e contam com algumas das obras assinaladas, são eles Yola Castro("A Borboleta Colorida" -2000, "O Menino Pescador-2006"), Jonh Bela( "A Canção Mágica" - 2001, "Nzambi o Rei Sou Eu" - 2008), Ondjaki ("Yanari a Menina das Cinco Tranças- 2002"), Kanguimbo Ananás ("O Avô Sabalo-2006").
A oralidade está muito presente nas obras como forma de atrair a atenção das crianças pela linguagem e alguns contos são inspirados na oratura, a fim de introduzi-las na cultura tradicional. Aparecem personagens que são figuras míticas, como a sereia kianda, a deusa das águas, os gingongos(gémeos, tidos como pessoas sobrenaturais) e também os seres inanimados da natureza que falam, sentem e se emocionam como os humanos. Os autores identificam-se bastante com o seu meio, a terra de origem. Uma terra circundada por águas misteriosas de mares, rios e lagos, cujos habitantes se apegam a mitos e crenças, particularmente o feitiço e a superstição.
Importa referir que dentro do universo literário, a poesia infantil tem sido muito pouco cultivada. Apenas Manuel Rui e Maria Celestina Fernandes têm livros inteiramente dedicados à poesia infantil, "O Assalto" - 1979 e "A Estrela que Sorri - (2005, UEA)", respectivamente. A obra poética de Manuel Rui, publicada pouco depois da independência, é um canto em homenagem ao primeiro presidente da república e ao país acabado de nascer.
Compõe-se de poemas curtos e bastante ritmados, tendo alguns deles sido musicados, a exemplo do poema "Tanta coisa me mandaram" - que faz parte do disco do Jardim do Livro, editado pelo INALD. Infelizmente a iniciativa parou por ali, pelo menos em termos de colectâneas.
Em relação à poesia de Maria Celestina Fernandes, o primeiro livro "A Estrela que Sorri" tem prefácio da Prof. brasileira Laura Padilha e conta com quarenta e nove poemas, cujos temas são de louvor pela paz conquistada em 2002 e que deve ser preservada, o sentido patriótico, a família, o amor, o carinho, a bondade, a solidariedade, o gosto e a protecção da natureza, o papel da escola e do professor, a amizade, o valor e importância do amigo na vida, os jogos e brincadeiras do passado e do presente.
E tudo se resume no que diz em seu prefácio a Prof. Laura Padilha: "Maria Celestina, em seus poemas, traz conto, lições e canto, tudo reunido,abrindo-nos, de novo, as "janelas" de nossas "almas", para que possamos deixar nelas entrar a "Menina lua cheia". (Padilha, Laura-2005). Brevemente estará à disposição dos leitores a sua mais recente obra poética, a ser editada pelo INALD.
Ora, se tivermos em conta o quão útil é a poesia na vida das crianças, como meio de rápida e encantadamente arquitectarem seus sonhos e voos e na importância que a mesma tem na formação das mesmas, uma vez que contribui para o seu desenvolvimento psicológico e intelectual, pela possibilidade de fácil memorização e criação, torna-se premente o incremento da poesia infantil em Angola.
Dos escritores que foram sendo mencionados alguns já faleceram, é o caso de Rosalina Pombal, Gabriela Antunes e Raul David, o autor de "Contos Tradicionais da Nossa Terra". Com estes desaparecimentos o universo de escritores de literatura infantil, já de si diminuto, ficou mais empobrecido. Analisando a colectânea do Conto Infantil Angolano(UEA-2005) que congrega autores que já produziram obras para crianças e incluindo também os que dela não fazem parte e os já falecidos, podemos contabilizar pouco mais de uma dezena de escritores.
Convém referir que Octaviano Correia, um dos pioneiros da literatura infantil angolana, deixou Angola há já vários anos.
Dos escritores no "activo" , penso que nenhum se dedica exclusivamente à escrita, todos fazem da escrita um hobby, pela paixão que têm pelas crianças e pelo gosto de comunicar e formar.
E não obstante o número reduzido de escritores, a realidade é que a produção de livros infantis não é regular, quer por falta de novos originais de qualidade, quer pela dificuldade que as editoras têm em pôr obras no mercado, alegando fraca disponibilidade financeira, pelo que uma vez esgotadas as poucas obras também raramente são reeditadas.
Por outro lado, actualmente as tiragens por cada edição são bastante pequenas, rondam os mil exemplares, acabando por fornecer apenas as livrarias de Luanda, a capital. Todavia, mesmo em Luanda nem todas as crianças têm acesso ao livro, porque os pais não têm poder de compra ou por não estarem motivados a comprar este tipo de mercadoria, uma vez que não têm hábitos de leitura. E fica a pergunta de quem deve incutir, então, o hábito de leitura às crianças?
Concluindo:
Depois da panorâmica que acabamos de apresentar sobre o surgimento e desenvolvimento da Literatura Infantil Angolana pós-independência, a questão é saber para onde caminha ela.
Do que foi referido pode-se concluir que a literatura infantil ocupou nos primeiros anos de independência bastante espaço e preocupação da parte das autoridades e dos que escreviam. Estes faziam-no entusiasticamente e com uma regularidade quase religiosa e os textos eram prontamente publicados, quer através dos órgãos de informação, quer em livros. Por sua vez, as crianças eram estimuladas a ler ou a ouvir contar as histórias, em casa, na escola ou mesmo nas livrarias. A livraria Miruí, em Luanda, albergava diariamente muitos leitores infantis, que para lá se dirigiam para ler ou ouvir contar histórias. Era a fase da massificação da alfabetização e da massificação cultural.
Entretanto, com o evoluir dos anos foi-se assistindo a uma redução cada vez maior de livros infantis angolanos no mercado e com ela a perda dos hábitos de leitura que estavam a ser adquiridos. Também não se verificou um aumento de cultores deste género como era de esperar.
Do balanço feito, cerca de uma dúzia de pessoas se foi dedicando à literatura infantil e destes poucos deram continuidade à iniciativa ou não escrevem com a regularidade desejada. Alguns ficaram por um só conto.
Maria Celestina Fernandes e Cremilda de Lima são as escritoras que nos últimos anos vêm apresentando obras com maior regularidade, contando cada uma delas com mais de uma dezena de obras publicadas. Uma das razões apontadas para o esmorecimento é a falta de estímulo para quem escreve esse género literário, a pouca seriedade e valorização que lhe é atribuída e também as dificuldades encontradas na hora da publicação.
E, face à situação tão pouco animadora em que se encontra a literatura infantil angolana, vários apelos se têm feito no sentido de se criarem condições para que mais pessoas sejam motivadas a escrever e se dê o verdadeiro destaque e importância a todos os agentes que intervêm no processo de criação.
Devido ao custo elevado do livro infantil por causa da cor, as editoras vêm apelando insistentemente para que o Estado adopte políticas para subvenção da matéria-prima, que é toda importada, a fim de poderem suportar os gastos inerentes à execução gráfica. Essa subvenção iria permitir também uma venda mais barata ao público.
Por outro lado, igualmente se vem falando bastante da necessidade de abertura de bibliotecas públicas e escolares onde pessoas especializadas estejam ao serviço das crianças, para lhes incutirem hábitos de leitura e dar a devida orientação na escolha das obras.
Neste sentido, o Ministério da Cultura retomou há dois anos a realização da feira do livro infantil, O Jardim do Livro, uma iniciativa que foi bem acolhida pela população. Para além da comercialização de livros, as crianças e seus acompanhantes podem ouvir contar histórias, assistir palestras e espectáculos e outras diversões.
Com esta comunicação penso ter dado a conhecer um pouco da realidade literária do meu país no que concerne à literatura infantil, espero não os ter cansado. Deste encontro procurarei tirar o maior proveito.
Muito obrigada pela vossa paciência.
Referências:
Winnicott, Donald - www.infopedia.pt
Sampaio, Daniel - XIII Encontro de Lliteratura para Crianças - A Literatura para Crianças no sec. XXI, comunicação "A Literatura Infanto-Juvenil no Século XXl". Boletim Cultural, Lisboa, Março 1999
Pepetela - As Aventuras de Ngunga. Luanda, 6ª edição UEA 2K, 1988
Neto, Maria Eugénia - A Montanha do Sol. Alverca/Ribatejo: CEBI, 1989
Monteiro, Manuel Rui - A Caixa. Luanda, edição Conselho Nacional de Cultura, 1977
Secco, Cármen Lúcia - (8coord.ensaio)- Entre Fábulas e Alegorias, R. Janeiro edição Quartet, 2007
Moniz, Fábio F. S. - Formação moral do pioneiro e manutenção da utopia revolucionária: A literatura infanto-juvenil angolana de engajamento, coord. ensaio Secco, Cármen Tindó, Entre Fábulas e Alegorias. R. Janeiro, edição Quartet.
Neto, António Agostinho Neto - Sobre a Literatura, 3ª edição, INALD, 1977
Antunes, Gabriela - Colóquio sobre Literatura Infantil, 1986
Pina, Juraci Coutinho - A Gotinha Rebolinha. Uma narrativa infantil angolana. www.uea-angola.org./artigo
Fernandes, Maria Celestina - A Árvore dos Gingongos, edições Margens, Lisboa, 1993
Fernandes, Maria Celestina - A Estrela que Sorri, ed.UEA, Luanda 2005
Colóquio Sobre Literatura Infantil - Secretaria de Estado da Cultura, 1986
Currículo
Maria Celestina Fernandes, nasceu no Lubango, província da Huíla-Angola, aos 12 de Setembro de 1945. Fez os estudos primários, secundários e universitários em Luanda. Tem formação em Serviço Social pelo Instituto Pio XII e licenciatura em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade Agostinho Neto. É membro da União dos Escritores Angolanos, onde já ocupou vários cargos. Endereço electrónico :celcruz5@hotmail.com