Minhas Anotações
Seria utópico se dissesse, que a fadiga de um povo traumatizado pelo
passado é prova de que Deus não a corda, e tais palavras, a prior, falsas
ocupariam as colunas dos jornais cristãos. O primeiro julgamento viria de meus
irmãos, que sempre me inspiraram, pois como o autor subscreve em textos acima,
sustento, que nenhuma dor é interminável, nenhum império é imbatível, e nenhuma
criança permanece infantil até que entre as pernas se sacodem a ira do calor!
– Mas ó menino! Põe tento naquilo que dizes...
Carlos da Silva encolheu os ombros, continuou:
– Como entendeis vós a independência? Como eu talvez, isto é, a
desunião de Portugal, da nossa mãe pátria. Para quê, para nos acolhermos em
seguida a qualquer bandeira estrangeira? Não ficaremos pois
independentes. A cerimônia que se fizer não será mais do que a mudança
de papéis porque continuaremos a estar dependentes, se não de Portugal, da
nação a cuja bandeira nos formos acolher. E não será melhor que continuemos a
ser portugueses, e com bastante orgulho porque os nossos avós o foram, os
nossos pais o são?
Severino interrompeu-o:
– Orgulho? Pois você tem orgulho em ter por tutor um país como
Portugal? Que nada nos trouxe de bom, que nada fez para o desenvolvimento de
Angola! Que apenas nos assegura a miséria, o embrutecimento, a fome, a morte
enfim? É o orgulho do boi pela canga que o traz cativo!
***
– Ainda que venha a república, Portugal não tem capacidade para
desenvolver Angola. Melhor seria que nos vendessem à França, à Alemanha ou à
Inglaterra, como de resto o pretendem alguns senhores deputados.
Do segundo capítulo Pág.
68-69
***
Os ecos desta pacífica revolta, desta clamorosa
passeata pela baixa pombalina, chegaram a Luanda atrasados de alguns dias.
Chegaram contudo mais vivos de cor, crescentados de tiros e de sangue e de
piedosos detalhes destinados a despertar o espírito da nação.
Quando o velho colonialista Silva Porto se
embrulhou na bandeirinha azul do reino e, empoleirado num barril de pólvora, se
fez explodir, a ele e à sua libata e a todo o armamento e munições, sabia com
certeza que estava
a lançar petróleo à alta fogueira dos ódios nacionalistas e, assim,
indiretamente, a perpetrar um massacre.
– A Sanga transformou-se na pátria de todos os
perseguidos, de todos os ofendidos, de todos os humilhados. Viviam nela gentes
de diferentes tribos, serviçais e homens da cidade. E o que tinham de comum
entre eles era o mesmo combate contra o muene puto, a mesma funda ânsia de
liberdade. E é isso que nós queremos também...
Do Terceiro
capítulo, pág, 82-83 e 105
****
Por esta altura deflagravam em Luanda uma série de
greves e sobressaltados acontecimentos, tendo como origem um artigo inserto no
número quatro d’A Gazeta de Loanda, único periódico que, ao tempo, se publicava
na capital da colônia.
O dito artigo multiplicava-se em insultos soezes
contra a raça negra, não sendo daí, porém, que vinha a maior novidade; de novo
havia que, tomando por base tais dantas-baratismos, o audaz croniqueiro se
atrevia a construir teorias e a avançar com propostas que até então ninguém
havia ousado publicamente apadrinhar. Por exemplo, propunha que se
substituíssem as penas de prisão por castigos corporais, pois “meter em ferros
d’El Rei um preto que delinquiu assassinando, roubando, ferindo, ofendendo a
moral por ações ou palavras, não é aplicar um castigo, é antes incitá-lo ao
crime, é lisonjear-lhe o instinto, é dar-lhe o prêmio. Pois qual é o ideal do
preto senão comer sem trabalhar? Qual é a sua lei, a sua norma de vida, o seu
superior anseio? Não somos apologistas dos castigos corporais. Achamo-los uma
barbaridade, pelo mesmo motivo que achamos a pena de morte um crime oficial.
Mas umas palmatoadas não matam ninguém”.
Do quinto capítulo,
pág159
Minhas Anotações
Seria utópico se dissesse, que a fadiga de um povo traumatizado pelo
passado é prova de que Deus não a corda, e tais palavras, a prior, falsas
ocupariam as colunas dos jornais cristãos. O primeiro julgamento viria de meus
irmãos, que sempre me inspiraram, pois como o autor subscreve em textos acima,
sustento, que nenhuma dor é interminável, nenhum império é imbatível, e nenhuma
criança permanece infantil até que entre as pernas se sacodem a ira do calor!
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