terça-feira, 10 de novembro de 2020

CRÓNIKA - As batas brancas de Grilo e os pulmões de Lutukuta

O meu avô pediu que fosse a mesma barraca onde, vezes sem conta levava um copo contido um líquido transparente, desde os meus instintos de infância, desconhecia o sabor e o cheiro, confesso a mim mesmo, que fui mais fiel que as crônicas bíblicas do Antigo Testamento, em não saber, que se tratava da água, que hoje é também do meu chefe. Faltando 15horas para o reinício de mais uma odisseia, milhares de alunos darão corpo ao manifesto, num clima de incerteza sobre a contenção ou a incubação do vírus chinês em Angola, um verdadeiro emulador de nossos sonhos.


O meu avô tinha o hábito de dissuadir-me sempre, que tomasse uma ideia como acabada. E eu sentia-me aquietado com a sua áspera atitude de acumulador de saberes, quando me orientava sobre a vida em tempos de crise. Estávamos a viver os anos idos da fome de 92, agora sinto a sua voz em cada silêncio da conferência de imprensa a pedir, que regressasse com aquele copo de água transparente. — Não quero meu neto, regressa com esse copo, chega, eu já não posso morrer do meu orgulho. — Neste instante, sem ninguém para esconjurar o ambiente pesado que amolesta meus pensamentos, regressar à escola é uma atitude, que só ele poderia me mostrar aos dedos, tal como fez, para sobreviver no 27 de Maio. Sinto-me impudico, sem forças.

A minha mãe agrave a narrativa! Encontrou a bata, que já tinha jogado na lama. Para sobreviver vou necessitar dos pulmões da ministra Silvia, pois não há álcool gel em casa, e na escola defecamos no capim.

Bussulo Dolivro
[Era uma vez Angola]
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