terça-feira, 13 de outubro de 2020

CRÓNIKA - Como matar um político no verão — três métodos para o inimigo ser feliz

 CRÓNIKA

Numa mesa tradicional senta sossegada uma mulher aparentemente contida pelos ventos de um final de semana agitado, nas mãos pesa uma chavena de chá, quente e, de um aroma jasmim de origem egípcia. Respira lentamente, tal como escorrem sobre suas pernas um leite azedo e salgado, mas frio, tal como seus pensamentos patuscantes — naquele instante ela apieda os dedos que recebem um molho de pó acastanhado, spirintox de fabrico russo. Primeiro golpe de repugnância.

Na mesma mesa há uma reunião fatídica, mas debaixo, entre os pés dela e o da mesa, um político é convidado a conhecer um discurso de ralé, enquanto perde as estribeiras da ética elitista sublinhadas por Maquiavel, — aqui ele é convidado a um ritual periférico das massas, de arrostar sua empatia e, quando possível deve introduzir a cabeça num cabaré da aldeia ou da cidade para tomar um chá quente ou sentar sobre a mesa preparada secretamente, enquanto o inimigo aplaude a maciez do seu sudário. O quarto é na verdade uma mortalha. Está dado segundo golpe de misericórdia.

Um galo de penas brancas voa, emcapelado sobre a mesma mesa, mas a mulher já não está lá. E no quarto onde a vítima aguarda pela sua amizade sofre perfurações nos pulmões. O galo fede e alguém recolhe as fezes. Alguém, tão longe une as pedras, e te acorda no meio do exorcismo, — tudo começa a fazer sentido, sonhos, cansaço e miragem. O galo canta, e a dor incomu já faz urdidura. Está dado terceiro golpe de misericórdia.

Bussulo Dolivro 🇦🇴
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