O primeiro-ministro de Cabo Verde, José Maria Neves, já reagiu ao facto de Cabo Verde constar dos ficheiros secretos divulgados na semana passada pelo site Wikileaks.
Cabo Verde esteve desde o ano passado sob apertada espionagem dos EUA, de acordo com os ficheiros secretos da diplomacia americana divulgados pelo site
Wikileaks.
Segundo José Maria Neves, citado pelo jornal A Semana, "os EUA têm boas informações sobre Cabo Verde". "Até para poderem fazer o seu trabalho e desenvolver as acções de cooperação com os vários países", disse.
José Maria Neves disse que os EUA têm as melhores informações sobre Cabo Verde, independentemente da forma como esses dados foram obtidos. "Se pediram essas informações, tiveram boas informações sobre Cabo Verde", disse domingo aos jornalistas.
O primeiro-ministro de Cabo Verde apoiou também a secretária de Estado norte-americana Hilary Clinton que considerou um "atentado contra a comunidade internacional" a forma como os ficheiros secretos americanos foram ou estão a ser divulgados pelo website dirigido pelo australiano Julian Assange.
Espionagem
O jornal cabo-verdiano, baseado nos documento diplomáticos divulgados pelo Wikileaks, noticiou que Washington mandou agentes e diplomatas seus espionarem a propensão do arquipélago para o terrorismo e o narcotráfico; e, nesse pressuposto, os mesmos deviam elaborar uma base de dados com informações biográficas, contas bancárias, cartão de crédito, viagens efectuadas, horário de trabalho, contactos telefónicos e e-mails de dirigentes e pessoas com ligações a Cabo Verde.
Cabo Verde figura num grupo de oito países da região ocidental de África (com o Chade, Mauritânia, Níger, Burkina-Faso, Gâmbia, Senegal e Mali) onde os EUA lançaram desde o ano passado uma abrangente operação de espionagem, envolvendo tanto os serviços governamentais quanto os dirigentes políticos, militares e da sociedade civil, bem como o sector da economia.
"Na verdade, a investida norte-americana vem desde a administração de George W. Bush, mas as novas directrizes, que incluem Cabo Verde e os restantes sete países da região saheliana, foram comunicadas às embaixadas dos EUA nesses estados oeste-africanos a 16 de Abril de 2009, portanto, já durante a gestão de Barack Obama. Isso aconteceu através da secretária de Estado, Hillary Clinton. Melhor ainda, a ordem foi dada quatro meses antes de Hillary encetar um périplo pelo continente africano, tendo inclusive passado por Cabo Verde com o impacto que se sabe", escreveu o jornal.
Os pedidos da secretária de Estado
O telegrama que Hillary Clinton enviou às embaixadas americanas nos países sahelianos é claro: "O Departamento do Estado está desesperado por informações sobre o Burkina-Faso, Cabo Verde, Chade, Gâmbia, Mali, Mauritânia, Niger e Senegal. Queremos saber tudo acerca de agitações sociais, tráfico de drogas, padrões de governação e detalhes sobre o sistema de telecomuni
cações".
Os documentos da Wikileaks não mostram os resultados da espionagem feita (ou em curso) em Cabo Verde, mas apresenta o que a Casa Branca exigiu: "Os relatórios devem incluir, tanto quanto possível, informações sobre pessoas com ligações à região oeste-africana (Sahel): organismos e cargos; nomes, posições e negócios; números de telefone, celulares e fax; lista de contactos, incluindo números de telefone e lista de contactos de e-mail; cartões de crédito; viagens; horário de trabalho e outras informações biográficas adicionais", lê-se no despacho assinado por Hillary Clinton a que o jornal britânico The Guardian faz menção na sua edição de domingo, 28 de Novembro, na sequência do vazamento da Wikileaks.
O mais importante para a Casa Branca
Segurança, governação, economia e sistemas de telecomunicações foram os quatro eixos principais da espionagem desencadeada pelos serviços de inteligência norte-americana em Cabo Verde.
No capítulo da segurança, Washington insta os seus agentes e diplomatas a recolher, por exemplo, dados detalhados sobre eventuais presenças de grupos terroristas, os seus planos contra os EUA, as capacidades de resposta a ataques terroristas ou políticas de contenção de fundamentalismo islâmico na região.
A ordem assinada por Hillary Clinton era para que os agentes americanos em Cabo Verde averiguassem ainda o funcionamento das Forças Armadas e de Segurança, a possibilidade de cooperação com os EUA, a capacidade dessas forças para integrarem corpos de manutenção de paz. "E, o mais importante, se há ou não condições para, em caso de crise, o Pentágono poder instalar em Cabo Verde uma base de apoio militar", segundo A Semana.
Nesse mesmo documento, a secretária de Estado pede também aos seus diplomatas e agentes que reúnam todas as informações sobre o narcotráfico na região, as ligações com os cartéis sul-americanos e os dados dos principais suspeitos.
Washington demanda ainda informações sobre a percepção que os cabo-verdianos têm do Millenium Challenge Account (MCA) e manda sondar a posição do governo e de cada dirigente, em particular, sobre o apoio de Cabo Verde aos EUA nos fóruns internacionais.
"Portanto, a eventualidade de uma "contrapartida" política ou diplomática não é de todo posta de lado face aos 110 milhões de dólares já disponibilizados a Cabo Verde. Tanto mais que, após o primeiro compacto, está já na forja um segundo compacto em montantes ainda por definir", segundo o jornal cabo-verdiano.
Migrações e telecomunicações
Num dos telegramas, a Casa Branca solicita uma investigação sobre as migrações e os indicadores potenciais de instalação de campos de refugiados no arquipélago, atendendo ao fluxo migratório entre os países da sub-região africana.
A ordem de serviço de Washington termina apelando aos agentes ao serviço da Inteligência americana para informarem sobre o sistema de telecomunicações existente em Cabo Verde, as suas qualidades e vulnerabilidades. E lembra que são fundamentais informações detalhadas sobre as frequências de rádio, sistema de emissão de passaportes e credenciais do governo e a agenda de contactos dos principais líderes civis e militares.
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