quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Conversas Na Mesa E Palavras Entre Os Lençóis, - 4º ACTO



O frio trazia o orvalho ao longo da Via Expressa, sobre o asfalto o cuidado era necessário para quem se sujeitasse a sua insegurança. Viaturas com os vidros embaciados ofuscavam os reflexos dos motoristas, obrigados a abrandar em espaços baldios, cujo carvão se desfazia da engenharia chinesa.
Muetuda, ainda estava no hotel, animado pelo perfume deixado entre os lençóis, de olhos mirados na TV, que denunciava o roubo de um boeing 777 no aeroporto internacional 4 de Abril. — É ao segundo roubo, m**da, revelou insatisfeito o empresário, quando sentiu o toque do alarme da porta.
— Senhor!... Há polícias lá fora, envolta da sua viatura, avisou uma das jovens, encarregue pelo ambiente dos quartos.
— Está bem, obrigado.
O empresário adivinhou ser necessário sair pelas portas do fundo, mas nunca pensou ser arriscado abandonar a viatura, sem ao menos retirado a térmica onde continham os órgãos humanos, extraídos do corpo do esposo de sua amante e serva laboral, Mariana. A térmica já estava nas mãos de seus detratores, a polícia.
— Comandante! Encontramos a viatura do camarada Muetunda.
— Revistem toda viatura deste saca**a, e tragam todos os arquivos encontrados.
— Há uma térmica, onde contem órgãos, provavelmente de seres humanos, o que fazemos Comandante?
— Tragam como está, e sinalizem a viatura, mas antes bloqueiem-na.
— Está bem, assim o faremos.
Um grupo de bombeiros já se encontrava no local, e junto da polícia organizavam os procedimentos técnicos para recolha de dados, e outras perícias criminais, ademais.
O hotel registou um momento de agitação e caos, houve quem decidisse abandonar o seu apartamento com o medo de pagar a culpa dos prevaricadores, tal como fizeram os 51 turistas estrangeiros, provenientes de Dubai e Moscovo, não hesitaram e regressaram em suas terras de voo, abandonando Comboio Turístico que os trouxera. Muentuda, longe, aparentemente da cabala, a que foi envolvido por um grupo de jornalistas e amigos do seu partido se sentia ignoto, porém um sentimento negativo o exigia pensar em Mariana. Ele farejava o apertar do cerco.
— Apresente-se na Esquadra da Elite para prestar esclarecimentos sobre a térmica encontrada em sua viatura, lia Muetunda na tela do seu smartphone uma sms anónima, —  “É urgente”.
Ele decidiu desviar a marcha para responder a emergência, no local estavam três dos seus amigos do partido, o enviado do Comandante e dois desconhecidos.
— Onde o senhor esteve durante o meio-dia de hoje?
— Trabalhando fora dos meus escritórios (…)  
— Então, agora o senhor integra uma rede de tráfico de seres humanos?
— Desculpem, não sei do que falam? — Ignorou Muetunda, tentando criar um efeito ilusório ao pensamento de seus oponentes.
— Então diga-nos, de quem é a propriedade destes artigos, — Uma térmica era exibida na mesa, tratava-se da mesma a que continham os órgãos humanos.
— Não sei, respondeu ele sem pestanejar.
— O senhor esteva no Hotel Vitória?
— Sim, e porquê?
— Encontramos na sua viatura, que estava estacionada no parque do mesmo Hotel. — Muetunda abriu os braços, como se as informações, que pesavam sobre si fossem supérfluas, do que a realidade a que estava diante de seus traços digitais.
— Isso é irrelevante, qualquer pessoa poderia ter colocado esta térmica na minha viatura, replico, ganhando oxigénio para voar do cenário.
— Está bem, o senhor está livre de momento, voltaremos a comunicar-lhe, quando houver necessidade.
— Está bem, e espero que não atrapalhem o meu processo laboral, disse, abandonando a Esquadra da Elite, fechou com muita força a porta, deixando o pó da porta espraiar na atmosfera.
— Meus senhores investiguem a origem desta térmica a partir de sua marca, quando e onde e quem a comprou, e ai saberemos a verdade, precisamos acabar com esta rede de tráfico de serres humanos, e dar um fim a impunidade nesta cidade.
Mariana, em casa sentia as traqueias de seu coração fora do lugar, o medo, a ansiedade davam lugar a raiva, subiam-na vozes sobre a sua cabeça, e sentia ver sombras de almas perdidas. A imprudência de sua ganância jogava na atmosfera toda pressa, que poderia negar, antes de assassinar o marido, a irmã e se ver em jogo de esquemas perigosos com o seu amante, e chefe da empresa, Muetunda.
— Meus Deus, o que fiz? — Perguntava ela a si mesma, esperando respostas dos deuses, que tardavam chegar.
— Mariana, alguém veio a procura do senhor Adão, gritou uma das vizinhas, bastante amiga de si.
— Ela acorreu ao portão para saber de quem se tratava,
— Eram colegas da frota, e um dos irmãos de Adão, — Caso voltarem diga que ele saiu, e não se sabe quando volta. — Está bem, respondeu a confidente.
Mariana tremia nos dedos, acorreu para o seu quarto, trocou de roupa, e organizou outras numa mala, pegou no seu passaporte e abandonou a casa, sem ao menos trancar as portas, o portão e acionar o alarme, como era de costume. — Dirigiu-se para o aeroporto 4 de Abril, num táxi azul e branco.
Horas depois a polícia estava no mercado Kero, onde a térmica contida órgãos de seres humanos fora comprado nos últimos dois dias, nas imagens estava uma mulher, de 1 metro de 65 de altura, pelas imagens assemelhava-se a Mariana, o produto adquirido no valor de 7 mil kwanzas, na tarde de quinta-feira, balcão 12.
— Alguém sabe o código do cartão que ela usou?
— Somente a gerência pode fornecer os dados.
Tratava-se do cartão de Muetunda.
— E quem é a mulher?
— Provavelmente uma empregada.
— Não, acho que ela é parente de Mariana, a secretária de Muetunda.
— Sério? — Sim, só pode, pela aparência, ninguém duvidaria.  
— Vão atrás do homem, e se possível tragam-na até a esquadra da Elite.
— Está bem senhor.
 As câmaras do Kero facilitavam as diligências policiais.
Por volta das 18horas a polícia cercava a residência de Mariana, enquanto, outros, a dentro reviravam tudo, procurando provas associadas.
— Senhor! Encontramos as fotografias da senhora que fez a compra da térmica, e inclusive os recibos.
— Muito bem, tragam tudo, e quem encontrarem por lá, e depois seguem para o aeroporto, para saberem mais sobre o voo N844AA AFA, roubado.
A casa desfeita (…) roupa, louça e outros meios dispersos ao acaso imobiliários não chamou ao espírito investigativo outras razões ocultas naquela casa, a polícia abandonou a mesma, sem questionar o sangue encontrado em alguns pertences, e a quantidade de terra no centro dela, mas levou consigo um garfo ensanguentado.
Já no aeroporto, as câmaras impediam que Mariana seguisse para China.
— Desculpe! A senhora não deve abandonar o país, avisou uma funcionária, gorda e de um ar mau humorada, que ligou de imediato à polícia.
— Quais as razões? Perguntou ela.
— A senhora a olhou de cima abaixo, e cuspiu de lado, antes de dizer — Há uma investigação em que a senhora deve responder. — Mariana suspirou, cansada, decidiu sentar ao invés de berrar contra o pessoal aeroportuário, como normalmente faz.
A polícia chegava, e pediu que ela seguisse. Mariana olhou em sua volta como se perdesse a inercia de seu estado emocional, e curvou-se às ordens das fardas azuis. Ainda no aeroporto, começavam as interrogações.
— A Senhora conhece esta fotografia? — Era exibida a imagem de sua irmã, numa foto tirada na China em 2009.
— Sim, é minha irmã!
— Sabes o que ela fez durante as últimas 24h, e onde se encontra neste momento?
— Não, não sei.
— Tens a certeza? — Sim, Confirmas que não a viu e nem sabe o que ela fez? — Mariana decidiu responder com um silêncio.
— A senhora pode dificultar a situação a que se meteu, caso não colaborar connosco, persuadiu um dos agentes.
— Não sei do que se trata!
— Foi encontrado em sua casa, artigos ensanguentados, e a sua irmã comprou esta térmica, que está nesta foto, e nela contém órgãos de seres humanos, e a mesma estava na viatura de Muetunda. — Conheces Muetunda, minha senhora?
— Sim, conheço.
— Onde esteve ao meio dia de hoje?
— A trabalhar!
— Nos seus escritórios ou fora?
— Em minha casa.
Mariana estava a mentir. (…)
“A Polícia alertava a aguarda fronteira do país a não permitirem a saída de uma cidade, que se encontra nas imagens” — Um vídeo era exibido pela TV, mostrando uma mulher a enterrar dois corpos dentro de sua casa.
“A mulher em causa ainda não foi identificada, tal como os dois corpos, nem o autor das gravações, mas a polícia já domina o caso”. Encerrava o breakNews.
Mariana assistia o excerto na TV e percebeu que se tratava de sua casa. — Era ela nas imagens O vídeo flagrado pelo seu enteado, já estava circular pelo mundo, Mariana sentiu o coração a sair pela boca.
Ainda no mesmo instante davam a conhecer pela TV a o assassinato de quatro policiais por um desconhecido, que encontrou na Esquadra da Elite, e levou consigo uma térmica, não se sabe o que havia por dentro. “Há além destes 12 feridos graves”.
Muetunda estava na ilha do Mussulo, dentro de um dos seus barcos luxuosos organizando os pensamentos, enquanto, uma modelo sul coreana a massageava o seu corpo todo, e ao lado um prato recheado de energia para o seu estômago.     




Bussulo Dolivro, 29 de Julho, 2019 In, Conversas Na Mesa E Palavras Entre Os Lençóis,
 
  






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